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sexta-feira, 11 de julho de 2025

A DOUTRINA DA ELEIÇÃO POR JOHANNES MACCOVIUS


LOCI COMMUNES, CAP. XXVI, De Electione Dei æterna.

A eleição é o decreto de Deus concernente a certos indivíduos, considerados por Ele como possíveis de serem criados, permitidos a cair, e libertos dessa queda. A causa da eleição é o beneplácito de Deus.

Com efeito, a eleição, seja em relação ao fim, aos meios, ou a ambos conjuntamente, procede do beneplácito divino. Isto é evidente em Lc 12.32, donde se conclui que Deus age no tempo conforme decretou desde a eternidade. Ora, desde a eternidade aprouve-lhe dar o Reino. Que tal ocorre também quanto aos meios é manifesto em Mt 11.25–26 e Lc 10.21, onde Cristo afirma que tal foi o agrado de Deus: revelar a certos a via da salvação. Que ambos (meios e fim) procedem do beneplácito divino também é claramente exposto em Rm 9, onde se declara: “Não depende do que quer, nem do que corre”, etc., ou seja, não depende de que alguém se dirija por si mesmo ao fim ou aos meios, mas de que Deus os conceda àquele a quem quiser. Objeção Arminiana: Se fomos eleitos por beneplácito, então isso supõe algum movimento em Deus causado por alguma qualidade nossa. Pois, se lhe aprouve, é porque lhe fomos agradáveis; e ser agradável (beneplacere) é o mesmo que ser grato. Assim, fomos eleitos por sermos agradáveis. Resposta: Ao dizermos que fomos eleitos por beneplácito, não nos referimos ao objeto (isto é, ao eleito), mas ao propósito de Deus. A forma do decreto é esta: Quero criar certos indivíduos, possíveis de serem feitos por mim; permiti-los a cair; e desses mesmos libertá-los da queda e salvá-los por causa de Cristo.

Essa eleição de Deus é eterna.

Prova: Ef 1.4. Mas se objeta com base em 2Ts 2.13: “Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porquanto Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, mediante a santificação do Espírito e fé na verdade.” Aqui, dizem, “desde o princípioπ ρχς não pode significar desde a eternidade, pois o que é eterno é sem ρχή (princípio). Logo, desde o princípio significaria pouco depois dos inícios, do mesmo modo que expressões semelhantes são entendidas em Jo 8.44, onde se afirmar que “o diabo foi homicida desde o princípio”, e em 1Jo 3.8, “pecou desde o princípio”, isto é, desde pouco depois dos primórdios do mundo, quando foi corrompido e se tornou réu de hediondo homicídio. De fato, um paralelo dessa passagem em 2Ts se encontra em Ap 17.8, onde se diz que os eleitos estão inscritos no Livro da Vida “desde a fundação do mundo”. Resposta: Trata-se de um modo de falar frequente nas Escrituras, segundo o qual algo se diz “acontecer” quando se manifesta ou é declarado. Veja-se Pv 17.17. É desse modo que o Espírito Santo fala nesses textos, ao dizer que os eleitos são escolhidos π ρχς e inscritos no Livro da Vida desde a fundação do mundo, referindo-se não à eternidade essencial de Deus, mas a uma certa declaração externa da eleição feita ab aeterno.

Ele alude, nesses lugares, àquela célebre promessa feita a Adão após a queda: de que a semente da mulher esmagaria a cabeça da serpente (Gn 3.15). Aí se encontra uma notável declaração do juízo divino, que estabelece uma distinção entre eleitos e réprobos: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua semente e a semente dela.

A eleição não foi feita por causa de Cristo, como se Ele fosse sua causa meritória.

Razão: I. Cristo, como Mediador, veio e foi enviado ao mundo por nossa causa. Logo, foi porque Deus primeiro quis conceder-nos a salvação que ordenou Cristo para nascer como homem. Assim, Cristo, enquanto meio para a execução da eleição, é posterior à eleição para a salvação; por conseguinte, não pode ter sido nela o fundamento. Pois, primeiro se considera o fim, e só depois os meios, o que, embora valha sobretudo no plano humano, também é verdadeiro analogicamente quanto a Deus. Essa prioridade, no entanto, não é de tempo, mas de natureza, ou seja, de ordem no entendimento dos decretos divinos. Por essa razão, o apóstolo Paulo chama Cristo de λύτρον λαστήριον, cf. Cl 1 e Rm 3, mas nunca diz que Ele seja a causa pela qual estes foram eleitos e aqueles não. II. A mediação de Cristo e a redenção por Ele operada são atos pelos quais se satisfaz a justiça de Deus, o que, de fato, não é o significado da palavra "eleição". Pois uma coisa é ser Mediador; outra, ser a causa da eleição ou da prelação (isto é, da escolha de um em detrimento de outro) no conselho secreto de Deus. Segue-se, então, que Cristo é sim a causa meritória da salvação, mas não da eleição. O que equivale a dizer: Cristo é o fundamento e a causa da execução do decreto de eleição, mas não sua causa propriamente dita. III. Não é coisa leve o que Cristo afirma em Jo 15.13: "Ninguém tem maior amor do que este: dar alguém a própria vida por seus amigos." E no capítulo 10, versículo 11, Ele mesmo se chama o Bom Pastor, porque dá a vida por suas ovelhas. Ora, se Cristo morreu por amigos e ovelhas, então é necessário que, ao morrer por eles, já os considerasse como tais, ainda que muitos deles não tivessem ainda sido chamados. O próprio Cristo atesta isso, pois em Jo 10.16, Ele chama de suas ovelhas até mesmo àquelas que ainda não haviam se convertido. Logo, se Cristo, ao morrer por nós, nos considerava como amigos e ovelhas, é evidente que antes da morte de Cristo já havia sido feita a distinção entre amigos e inimigos, entre ovelhas e bodes. Portanto, o decreto da eleição precede, em ordem, à morte de Cristo. O dogma dos adversários deve, assim, ser rejeitado como subversivo ao Evangelho, pois sustentam que, quando Cristo morreu, ainda não havia eleição alguma feita. Ora, aquele que morreu pelas ovelhas morreu pelos eleitos, e não por aqueles que só seriam eleitos depois que Ele tivesse morrido. Disso se conclui que, pelos “amigos” e “ovelhas” por quem Cristo morreu, não se entendem apenas aqueles que já amam a Deus e seguem a Cristo, mas todos aqueles a quem Deus ama, e cuja salvação Ele decretou, por quem Cristo morreu quando ainda não amavam a Deus e lhe eram inimigos. É por isso que são chamados “inimigos” em Rm 5.10, porque não amavam a Deus; mas, mesmo assim, já eram sumamente amados por Deus, e destinados à salvação em Cristo. Com efeito, sob diferentes aspectos, eram ao mesmo tempo amigos e inimigos, ovelhas e bodes: amigos, porque Deus os amava; inimigos, porque eles ainda não amavam a Deus. Portanto, já estavam na Igreja, ainda que não de maneira terminativa, mas objetiva. E a própria razão natural demonstra isso: assim como a cura do enfermo sempre precede, na intenção, à aplicação do remédio pelo médico, assim também é necessário que, na mente de Deus, a ideia de salvar certos homens seja anterior (não no tempo, mas na ordem) à de enviar o Salvador. Aqui, porém, os adversários apresentam muitas objeções:

I. Objeção: Diz-se expressamente em Ef 1.4 que fomos eleitos em Cristo. Resposta: Mas a gramática mostra que o Espírito Santo não diz simplesmente que fomos eleitos “em Cristo”, mas que fomos eleitos para ser. Com efeito, a quem se refere o infinitivo εναι, senão ao verbo precedente ξελέξατο? Isso é inegável. Assim, o sentido dessas palavras é: Elegeu-nos para que fôssemos santos, etc., em Cristo. Além disso, as palavras Elegeu-nos n’Ele antes da fundação do mundo, para sermos santos são razão explicativa das palavras anteriores: Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda bênção espiritual em Cristo Jesus — o que mostra que a partícula “como” indica o sentido destas expressões conexas: Ele nos abençoou com toda bênção espiritual em Cristo Jesus, como nos elegeu para esse fim — a saber, para que nos fossem conferidas essas bênçãos espirituais, que consistem precisamente em sermos santos e irrepreensíveis diante Dele. Logo, este texto não favorece, mas prejudica a opinião dos adversários. Pois o que ele afirma é que Cristo é a causa meritória de todas as bênçãos espirituais, e que fomos eleitos a fim de que tais bênçãos nos fossem concedidas em Cristo. Não fomos eleitos porque já estávamos em Cristo, mas para sermos feitos n’Ele. Fica claro, portanto, que fomos eleitos, segundo a ordem da natureza, antes de estarmos em Cristo, pois fomos eleitos para que em Cristo fôssemos abençoados.

II. Objeção: Rm 8 diz que os que Deus pré-conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos. Resposta: Daí concluem que Cristo já era considerado predestinado, pois se diz claramente que fomos predestinados a ser conformes à Sua imagem; ora, dizem, a imagem já existia, se a ela devíamos ser conformados. Portanto, Cristo já era predestinado, segundo a ordem da natureza, e, assim, seria a causa da predestinação. Resposta: De fato, fomos predestinados a ser conformes à imagem do Filho de Deus. Mas isso não implica que Cristo tenha sido predestinado primeiramente como causa da nossa predestinação, mas sim que Ele é o primeiro entre os meios pelos quais nossa salvação haveria de se cumprir. Ele é o primeiro elemento da cadeia dos meios, do qual os demais dependem, cf. Hb 10.

III. Objeção: Se Deus primeiro quis a nossa salvação, e só depois, por causa dessa vontade, determinou que Cristo fosse nosso Mediador, então Deus quis conceder-nos salvação fora de Cristo, o que é absurdo. Pois, se a quis fora de Cristo, também poderia concedê-la fora d’Ele. Resposta: A proposição “Deus quis conceder-nos a salvação fora de Cristo” admite dois sentidos: (I) Um sentido verdadeiro: que Deus antes de designar Cristo (uso aqui o termo “antes” não para indicar tempo, mas ordem natural) designou a salvação. Nesse sentido, a proposição é verdadeira, pois Cristo foi ordenado por causa da salvação, e não a salvação por causa de Cristo; (II) Um sentido falso: que Deus nos quis conceder aquela salvação, para a qual ordenou Cristo como causa meritória, fora de Cristo, o que de fato não ensinamos, sendo tal proposição inadmissível. Portanto, não é absurdo afirmar que Deus quis conceder salvação a alguns fora de Cristo, quanto ao seu desígnio intencional. Pois o decreto quanto ao fim é anterior ao decreto quanto aos meios (entenda-se aqui uma anterioridade de natureza e de ordem, não de tempo). Com efeito, os meios existem por causa do fim, e não o fim por causa dos meios. É isso que claramente atesta a Escritura, que afirma que Cristo veio ao mundo por causa da nossa salvação — 1Tm 1.15; Mt 18.11. Mas não se conclui disso que, porque Deus desejou a salvação antes de Cristo na intenção, Ele também a desejou fora de Cristo na execução. Pois nunca decretou concedê-la senão em Cristo, como atestam frequentemente as Sagradas Letras. Quanto à objeção adicional: “Se pôde querer a salvação fora de Cristo, também pôde concedê-la fora de Cristo”, isso é falso. Pois todo fim é primeiro intencionado, e é intencionado separadamente dos meios, porque os meios são determinados por causa do fim. Mas acaso, porque o fim é primeiro e considerado separadamente dos meios, segue-se que ele possa também ser realizado sem os meios? Por esse raciocínio, nenhum meio seria necessário, mas todos arbitrários. Tragamos exemplos concretos: o médico primeiro quer a cura, não o remédio; portanto, ele pode querer ou mesmo conseguir curar sem o remédio? Ou alguém pretende construir uma casa antes mesmo de pensar em madeira, pedra, carpinteiro e pedreiro — porventura poderá ele edificá-la sem matéria nem operários?

IV. Objeção: Ef 1.6 afirma: “Fez-nos agradáveis a si no Amado.” Daí deduzem: “Se somos agradáveis n’Ele, então Deus não poderia nos amar fora de Cristo; mais ainda, não poderia nos amar senão como fiéis, já que não estamos em Cristo senão pela fé.Resposta: Ser amado e ser agradável são coisas distintas. Deus ama até mesmo aqueles que ainda não fez agradáveis a Si. Pois amar significa desejar ou realizar o bem para alguém; já ser agradável significa ser aceito e aprovado. Ora, Deus pode querer e fazer-nos o bem antes de nós lhe sermos agradáveis. Pois só podemos ser agradáveis a Deus se formos justificados e regenerados, já que “o ímpio e morto no pecado não pode agradar a Deus”. Que Ele quis fazer-nos o bem antes de sermos assim, é evidente — e nem mesmo os adversários o negam. Pois afirmam que Deus seriamente deseja, quer e aspira à salvação de todos os pecadores. Logo, Ele quer, deseja e aspira que os inimigos se tornem amigos, que os não-regenerados sejam regenerados, e que os ímpios sejam justificados. Portanto, Ele quer o bem àqueles que ainda não lhe são agradáveis, o que mostra que é possível desejar o bem a quem ainda não agrada. Mais ainda: não apenas deseja o bem a alguns, mas também faz com que passem a ser agradáveis, os que antes não o eram. A Escritura mostra isso claramente, explicando como Ele nos torna agradáveis a Si em Cristo. Acerca de como somos por nós mesmos, fora da justificação e da regeneração, ela declara: somos ímpios, inimigos de Deus, filhos da ira, e outros termos semelhantes. Mas tais males, o Senhor os remove de nós em Cristo. Ele nos reconcilia consigo em Cristo Jesus — 2Co 5.19: “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens os seus pecados.” Aqui se ensina como Ele fez, de inimigos, amigos Seus. Que Ele nos regenera, é claro em Ez 36: “Dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um novo espírito; tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. Porei o meu Espírito dentro de vós...” E também em Ef 2.10: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.” Portanto, Deus deseja e confere bens a nós antes que sejamos agradáveis a Ele; mais ainda, ao nos conceder esses bens em Cristo Jesus, Ele nos torna agradáveis a Si.

V. Objeção: Rm 8.29, “Predestinou-nos para sermos conformes à imagem de Seu Filho.” Logo, o Filho foi predestinado primeiro, e só depois nós. Resposta: Uma coisa é ser predestinado ao fim, outra é ser predestinado aos meios. Fomos primeiro predestinados ao fim, antes mesmo de Cristo, enquanto fim desejado por Deus. Mas porque Cristo ocupa o primeiro lugar entre os meios, a nossa conformidade a Cristo ocupa o segundo lugar. Logo, esse meio (a conformidade à vida e à paixão de Cristo) foi predestinado posteriormente, em relação à nossa predestinação ao fim.

A eleição não é condicional, como forjam os adversários, concebida segundo esta forma: “Quero salvar aqueles que hão de crer.

Nenhum decreto de Deus, tampouco a sua vontade, é condicional, como já demonstramos ao tratar dos decretos divinos em geral. Aqui acrescentamos o seguinte:

I. Se a eleição fosse dessa natureza, então não seria propriamente a vontade de Deus, nem seu decreto, mas apenas uma velleidade. Ora, velleidade ou desejo em sentido próprio indica uma imperfeição intrínseca, e seu ato é indefinido. Tal coisa não pode de modo algum existir formalmente em Deus, que é perfeitíssimo e ato puríssimo.

II. Não se pode chamar propriamente de vontade aquilo que está suspenso sob condição, mas apenas aquilo que efetivamente quer. Com efeito, se Deus elegeu os homens para a salvação sob esta condição: “Se creres, quero tua salvação”, essa proposição não indica que Deus quer a fé e a salvação dessa pessoa mais do que a incredulidade e a perdição, visto que simultaneamente se ouve: “Se não creres, morrerás.”

III. Supor um decreto e uma vontade disjunta atribui a Deus uma falha σφάλμα alheia à sua perfeição. O próprio Suárez, embora concorde com os adversários nesse ponto, o admite. Com efeito, ele diz (em De Praedest., livro 1, cap. 13, seção 5) que a preparação dos meios, feita de modo confuso e sob forma disjuntiva, isto é, para que, se um meio não surtir efeito, outro seja aplicado, não é conforme à perfeição divina. A perfeição divina requer que, com ciência certa e de modo claro e distinto, tudo seja disposto em conformidade com a dignidade e capacidade de cada coisa. Portanto, o decreto geral “Quero salvar os homens sob a condição de que creiam”, ao qual os adversários subordinam este outro: “Quero salvar Pedro, que vejo que crerá”, é inepto para ser atribuído a Deus. Seria como se a vontade ou o decreto divino fosse indefinido, confuso e universal, com um progresso ou transição de uma indeterminação para uma determinação. Mas é igualmente absurdo imaginar em Deus uma vontade indefinida, uma ciência geral e um progresso de um ato para outro ou posterior. Assim como Deus conhece singularmente [singularissime] cada coisa, com suas causas e circunstâncias, não de forma genérica e confusa, mas em grau extremo de distinção, assim também decreta de uma só vez e de modo completo, num único instante de natureza. Essa verdade é tão manifesta que o próprio Suárez, jesuíta e defensor da posição adversária, a sustenta com vigor e confessa ter recuado de sua opinião anterior sobre a causa meritória à luz dessa evidência. Além disso, no decreto geral pelo qual todos os homens seriam eleitos sob a condição de prestarem fé, Deus seria escarnecido. Seria um decreto sob condição que, no exato momento em que é proferido, Deus já sabe com certeza que não será cumprida. E isso é ainda mais absurdo se tal condição só pode ser realizada com o auxílio e a eficácia d’Aquele mesmo que decreta. Com efeito, Deus não estabelece tal condição para o homem, mas para si mesmo, o que é inaceitável. A experiência prova que Deus não administra a todos os meios necessários para o cumprimento dessa condição. Ele não quer que o evangelho seja anunciado a todos, nem concede a todos o Espírito de regeneração. Por fim, o juízo a ser dado acerca dessa eleição geral pode ser extraído de suas consequências, dentre as quais a principal e mais grave é esta: afirmam que o número dos eleitos não é certo nem previamente definido por Deus. Com isso, a eleição dos indivíduos se torna incerta, e, portanto, incerto também o número dos eleitos. Ora, a Escritura ensina que o número dos eleitos é certo, conforme Ap 6, onde as almas sob o altar são exortadas a esperar até que se complete o número de seus irmãos. Cristo também fala das ovelhas que lhe foram dadas antes mesmo da conversão, em Jo 10.16. E ainda: “Todos os que o Pai me dá virão a mim”, Jo 6.37. E: “Ninguém pode arrebatar minhas ovelhas da minha mão”, Jo 10.28. Lucas confirma isso quando, em Lc 10.20, Cristo diz aos apóstolos: “Não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem, mas alegrai-vos porque vossos nomes estão escritos nos céus.” Essa expressão é tomada dos profetas, nos quais se diz que algo está escrito quando foi fixado e estabelecido por decreto divino. Em Is 4.3, por exemplo, são chamados “escritos para a vida” os que devem ser preservados segundo o conselho de Deus. Em Is 65.6 se lê: “Eis que está escrito diante de mim; não me calarei, mas retribuirei”, como se dissesse: está decidido e decretado por mim punir esses crimes. Não menos claramente afirma o apóstolo em Hb 12.22–23, onde chama a Igreja de “Jerusalém celestial e assembleia dos primogênitos inscritos nos céus”. A isso se refere o “livro da vida”, mencionado com frequência, especialmente em Ap 20.15, onde se diz que serão lançados no lago de fogo os que não forem encontrados inscritos no livro da vida. Sabemos, é claro, que há um certo “livro da vida” que não é o da eleição, mas o catálogo dos que se professam membros da Igreja e estão visivelmente inseridos na aliança, como mencionado em Ez 14.9 e Sl 69.29, livro do qual é certo que alguns são apagados. Contudo, quando se precipitam no inferno todos os que não estão inscritos no livro da vida, fica claro que esse livro designa um número certo e definido de pessoas que, enquanto os demais são destinados ao fogo, são reservadas para a vida. Tal número não pode ser aumentado nem diminuído, nem agora nem no dia do juízo. Além disso, a eleição é de pessoas singulares e definidas, como demonstraremos a seguir.

1. Em Rm 9, os predestinados são designados como Isaque, Ismael, Jacó, Esaú e Faraó. Nenhuma razão impede que o mesmo se diga dos demais predestinados. Objeção: Jacó e Esaú são ali tomados como tipos. Resposta: Isso é inapropriado. O texto trata de Esaú e Jacó como concebidos por Rebeca. Mas foram concebidos absolutamente, e não enquanto tipos. Ainda que se concedesse isso, o que dizer então de Isaque e Faraó? Seriam também tipos? Réplica: Sim, pois de Esaú se diz que foi odiado antes mesmo de pecar, e Deus não odeia a pessoa absolutamente, mas apenas o pecador. Resposta: Assim como a reprovação é dupla, o mesmo se aplica ao ódio divino. A reprovação pode ser negativa, ao não se estar inscrito no livro da vida; ou positiva, ao ser destinado e ordenado para a perdição. Do mesmo modo, o ódio divino pode ser negativo, quando alguém não é amado; e positivo, quando se ama alguém menos em razão do pecado, conforme Sl 5.5–6. Esaú, portanto, é dito ter sido odiado com ódio negativo, ou seja, por não ter sido dignado com o amor divino.

2. Em Lc 10.20, Cristo ordena: “Alegrai-vos porque vossos nomes estão escritos nos céus.” Isso equivale a dizer que pessoas certas e definidas foram predestinadas, pois a metáfora é tirada daqueles que, ao registrar pessoas certas e individuais, costumam anotar seus nomes. Objeção: Ainda que isso se conceda, não se segue que a reprovação seja também de pessoas certas, pois em lugar nenhum se diz que os nomes dos réprobos estão escritos, o que deveria ser dito, se a reprovação fosse semelhante à eleição. Resposta: É certo que o Espírito Santo trata com mais parcimônia dos réprobos do que dos eleitos nas Escrituras. A razão é que os ímpios não são objeto da mesma solicitude divina que os piedosos. Além disso, ainda que não se afirme literalmente que os nomes dos réprobos estão escritos, há passagens que indicam com clareza que certas pessoas são, de fato, reprovadas.

3. Todo fiel pode saber, quanto a si mesmo enquanto pessoa singular e determinada, que Cristo morreu por ele. Se, portanto, Cristo morreu por pessoas certas, segue-se que isso foi decretado desde a eternidade: que Ele morreria por esta ou por aquela pessoa em particular. Com efeito, assim como Deus age no tempo, assim também decretou desde a eternidade agir. Objeção: Cristo não morreu por pessoas definidas, já que se diz que morreu por todos. Resposta: Se entendes isso no sentido de que morreu por todos e cada um individualmente (pro omnibus et singulis), estás equivocado. Vê, por exemplo, a explicação dessa expressão em Ap 7.9. As seguintes proposições são contraditórias: que Cristo morreu por todos e cada um, e que, ainda assim, alguns foram reprovados — especialmente se isso for combinado com a distinção entre vontade antecedente e consequente. Com efeito, dizem que Deus, por vontade antecedente, quis que todos e cada um fossem salvos, mas, tendo previsto que alguns não haveriam de crer, por vontade consequente quis apenas a salvação de alguns. E, mesmo assim, afirmam que Deus concedeu a todos e a cada um o meio de salvação. Ora, se por vontade consequente Ele não quis a salvação de todos e cada um, como poderia querer-lhes o meio?

4. Há também um decreto concernente até mesmo aos nossos cabelos e aos pardais. Como poderia, então, haver decreto para essas coisas — que, em comparação com o ser humano, nada são — e não haveria um decreto concernente ao próprio homem, e de fato, a cada pessoa humana em particular? A premissa é evidente por Mt 10. A consequência é confirmada por analogia em 1Co 9.9.

A eleição para a salvação não se deu com base na fé prevista.

Nossos argumentos são os seguintes:

I. “Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi a vós” (Jo 15.16). Se, contudo, quiséssemos crer antes que ele nos escolhesse, seríamos nós os que primeiro o escolhemos, antes que ele nos elegesse. Isso resultaria numa afronta particular à graça e numa ofensa à sua singularidade, pois a causa de nossa eleição seria transferida do próprio Deus para o homem, sustentando-se que se deu por nossa causa. Mas Deus declara: “Não é por vós que eu o faço, sabei-o bem, mas por causa do meu santo nome” (Is 48.11). E Paulo pergunta: “Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado?” (Rm 11.35).

II. A fé é dom de Deus, conforme Efésios 2.8. Se assim é, não é coerente nem conforme à verdade afirmar que Deus nos elege com base em algo que ele próprio está por nos conceder, visto que, nesse caso, pressupõe-se necessariamente a eleição daqueles a quem tal dom será dado. Tal eleição, portanto, deve proceder do mero beneplácito e vontade de Deus. Assim, deve-se afirmar ou que a fé, em contradição com o apóstolo, reside na vontade humana, ou então que a eleição para a salvação deve ser buscada na única fonte da misericórdia divina. Dir-se-á: a fé, dom de Deus, é comum a todos, mas nem todos a aceitam, apesar de lhes ser oferecida. A graça de Deus, então, não seria irresistível, mas estaria sujeita à decisão do homem, se ele quer ou não recebê-la. Respondo: aquilo que não é não pode ser chamado dom de Deus. A fé é chamada dom de Deus não onde ela não está presente, mas onde está. Não se pode conceder algo que aquele a quem se dá não possui. Há sempre correlação mútua entre o doador e o recebedor. Onde, pois, há dom, aí Deus concede a posse da fé. Não se pode falar de dom onde Deus não opera para que se creia.

III. Se Deus nos escolheu com base na fé prevista, então nos elegeu não como estranhos, mas como filhos; não como estrangeiros, mas como cidadãos; não como mortos, mas como viventes. Ora, tudo isso o somos mediante a fé, e, se ele nos elegeu apenas enquanto crentes, elimina-se o motivo para toda gratidão e exultação entre os eleitos, pois não poderiam mais cantar a glória de Deus por terem sido escolhidos, apesar de estarem na mesma condição dos demais, não possuindo nada em si que os tornasse mais dignos do que os outros, mas tendo sido recebidos exclusivamente por graça e generosidade divinas. Os adversários negam isso, apresentando-se como recebedores não do benefício de Deus, mas de sua própria disposição. Desse modo, eliminam a pergunta do apóstolo: “Quem te fez diferente?” (1Co 4.7). Respondem: nossa fé nos distinguiu, nossa vontade crente nos separou, pois quisemos crer, enquanto outros recusaram. Mas o apóstolo insiste: “O que tens que não tenhas recebido?”

IV. Destaca-se aqui o texto de Atos 13.48: “Creram todos quantos haviam sido ordenados para a vida eterna.” Enquanto Paulo pregava aos antioquenos, alguns creram e outros rejeitaram o Evangelho. Lucas afirma que a causa da fé dos primeiros foi a ordenação e o decreto de Deus. A eleição, portanto, precede a fé, uma vez que a eleição de Deus é a causa porque se crê. Segundo os adversários, porém, Lucas deveria ter escrito: “E todos os que creram foram eleitos por Deus em razão de sua fé.” Mas o texto diz o contrário: que creram os que haviam sido eleitos. Os opositores tentam distorcer o sentido da palavra τεταγμένοι (ordenados), interpretando-a como “dispostos”, “preparados” ou “inclinados”, como se Lucas tivesse escrito διακείμενοι (bem-dispostos). Essa interpretação, no entanto, é refutada: primeiro, porque o uso que fazemos desse vocábulo é o mais comum em Lucas. Veja-se Atos 15.2: ταξαν ναβαίνειν Παλον (decidiram que Paulo subisse); e Atos 28.23: ταξάμενοι ατ μέραν (tendo-lhe designado um dia). Também Paulo, em Romanos 13.1: α δ οσαι ξουσίαι π το θεο τεταγμέναι εσίν (as autoridades que existem foram ordenadas por Deus). Além disso, essa palavra não pode aqui significar “bem-dispostos”, porque ninguém entre os não-regenerados pode estar bem-disposto ou bem-afetado à vida eterna. E todos aqueles antioquenos, antes de crerem no Evangelho, eram não-regenerados. Assim ensina o Espírito Santo sobre todos os não-regenerados: “O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus” (1Co 2.14).

V. A autoridade divina é sustentada também pela reta razão. Se atentarmos para o próprio título e vocábulo, a origem e uso do termo mostram que predestinar nada mais é do que ordenar e separar para um fim determinado. Escolher, tanto entre os gregos quanto entre os latinos, significa separar alguém ou algo dentre muitos, para si, com determinado uso e fim. Assim, ou a predestinação divina é para um fim, ou não é predestinação alguma. E se é para um fim, então também é para os meios, pois quem deseja seriamente e com reta intenção um fim, quer também os meios que a ele conduzem. Nenhum fim é desejado enquanto tal, a não ser que esteja em relação com seus meios, que, segundo a Lógica, lhe atribuem bondade e desejabilidade. Além disso, esses meios que conduzem à vida eterna são também os meios de participação da própria vida, são os bens iniciais da salvação, nos quais ela está contida, embora ainda de forma incompleta. Quem verdadeiramente crê tem em si Cristo habitando, tem o Espírito de Cristo, possui as primícias da glória, a união e comunhão com Deus Pai, e já experimenta a própria vida eterna. Possui também a natureza divina, embora ainda não no grau e modo com que a desfrutará após esta vida. Ainda assim, quanto à essência, não difere da futura. Ele possui agora a graça da adoção, da qual aquela futura herança é apenas apêndice. Conclui-se, portanto, que se alguém é eleito para a salvação e vida eterna, é necessário que seja igualmente eleito para os meios que constituem parte e grau daquela mesma salvação.

VII. A eleição seria então do que corre, e não do que usa de misericórdia.

VIII. Deus não teria compaixão de quem quer, mas sim daqueles que prevê crerem; logo, a sua misericórdia seria exercida necessariamente sobre eles.

IX. O texto de Romanos 11.5–6 não poderia ser verificado: “Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente segundo a eleição da graça. E se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça.”

X. Deus nada prevê como futuro, senão aquilo que ele mesmo decretou. Com efeito, se Deus previsse que certos haveriam de crer, então teria decretado isso. Resta perguntar: por que, então, ele não decretou fé para todos? A única resposta possível por parte dos adversários é: assim lhe aprouve.

XI. Em Tito 1.1, a fé é chamada fé dos eleitos. Ora, pergunta-se: por que a fé é chamada fé dos eleitos? Certamente não se pode apresentar outra causa, senão: ou porque ela procede das forças deles próprios, ou porque é dada a todos os eleitos. Os adversários querem sustentar a primeira opção. Mas isto é falso, pois a fé é dom de Deus, e porque o homem natural “não compreende as coisas que são do Espírito de Deus” (1Co 2.14). Resta, portanto, afirmar que se chama fé dos eleitos porque é dada por Deus somente aos eleitos. Se perguntares por que ela não é dada a todos, será necessário recorrer ao beneplácito de Deus.

Vamos agora examinar as objeções dos adversários. I. Objeta-se com o texto de Hb 11.6: “Ora, sem fé é impossível agradar a Deus.Resposta: Ser agradável a Deus é uma coisa; ser amado e escolhido por Deus é outra. Fomos eleitos porque Deus nos amou, não porque fôssemos agradáveis a ele. Com efeito, Deus nos amou enquanto ainda éramos pecadores (Rm 5.8); mais ainda, ele nos amou para que nos tornássemos agradáveis a si em seu Amado (Ef 1.6).

II. Objeta-se com Tg 2.5: “Não escolheu Deus os pobres deste mundo para serem ricos na fé?” Concluem, portanto, que Deus escolheu com base na fé prevista. Resposta: Deus escolheu os pobres na fé assim como escolheu herdeiros do Reino, mas os escolheu, não porque já fossem, mas para que fossem. Aqui é evidente uma elipse do verbo το γενσθαι (para que fossem). É certo que a herança é o fim da eleição, isto é, Deus escolheu aqueles a quem quis dar a herança celestial; portanto, o mesmo se deve dizer da fé, pois ambas as expressões são regidas pelo mesmo verbo e no mesmo sentido. Assim, “ricos na fé” está gramaticalmente sob a regência de “escolheu”, mediante o verbo elíptico para que fossem.

III. Objeta-se com 2Ts 2.13: “Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade.” Daí concluem que Deus nos escolheu com base na fé prevista. Resposta: O apóstolo ensina que Deus nos predestinou para alcançar a salvação por meio da santificação e da fé, mas não afirma que fomos eleitos por causa da fé prevista; diz apenas que fomos eleitos para alcançar a salvação por meio da fé. Se desse texto se pudesse inferir que fomos eleitos com base na fé prevista, também se poderia inferir que fomos eleitos com base na santificação ou regeneração prevista, o que os próprios adversários não aceitam.

Vorstius, contra Piscator, anota aqui que há uma elipse dupla: tanto do artigo τν depois do substantivo σωτηραν, quanto do particípio δεδομνην, para se entender que a salvação é dada pela santificação. Piscator responde, em sua “Resposta à Duplicação Amigável”, que é falso atribuir-lhe tal elipse, pois aqui não há distribuição entre dois tipos de salvação, uma dada pela santificação e outra não, mas se entende simplesmente a salvação eterna, que é uma só e que é dada pela santificação do Espírito. E pergunta que razão poderia ele ter para forçar essa elipse? A razão é que essa elipse forçaria a ideia de que a eleição ocorre pela fé, o que é falso, pois contradiz outros textos claros da Escritura, como Rm 8.30 e Ef 1.5.

IV. Objeta-se: “Aqueles que Deus salva no tempo são os mesmos que ele decretou salvar na eternidade; ora, no tempo Deus primeiro envia Cristo, depois administra sabiamente os meios para arrependimento e fé, e então recebe em graça os que se arrependem e creem, e finalmente salva os perseverantes na fé. Logo, Deus decretou salvar essas mesmas pessoas na mesma ordem.Resposta: Não há dúvida de que aqueles que Deus salva no tempo são os mesmos que ele decretou salvar desde a eternidade; mas dizer que Deus salva na mesma ordem com que decretou salvar, é verdadeiro num sentido e falso em outro. É verdadeiro que Deus salva segundo a ordem do seu decreto; mas é falso que, ao executar seu decreto, Deus siga a mesma ordem que teve ao decretar. Ao decretar, Deus pensa primeiro no fim, depois nos meios; ao executar, começa pelos meios e termina no fim. Assim também o médico visa primeiro a saúde, depois os remédios; mas, na prática, primeiro administra os remédios e depois alcança a cura.

V. Objeta-se que seria contraditório querer salvar absolutamente alguém, e ao mesmo tempo não querer salvá-lo senão sob a condição de fé. Resposta: Há aqui ambiguidade no termo “absolutamente”. Se por “absolutamente” se entende com certeza, de modo preciso e necessário, então essas duas vontades não se contradizem: querer com certeza salvar alguém, e querer salvá-lo por meio da fé. Assim como não se contradiz querer absolutamente que alguém viva, e querer que ele viva mediante comida e respiração.

VI. Objeta-se que é contraditório eleger alguém para a salvação antes de crer, e querer salvar apenas os que creem. Resposta: Negamos que haja contradição entre eleger alguém para que creia e querer salvar os que creem. Se um pai destina seu filho ainda pequeno ao ministério pastoral e, mais tarde, o faz ser instruído nos estudos para alcançar esse ministério, ele estaria querendo coisas contrárias? De forma alguma: ele simplesmente quis, desde o início, que seu filho chegasse lá mediante os meios.

VII. Objeta-se com 2Pe 1.10: “Procurai fazer firme a vossa vocação e eleição.” Concluem que a vocação é anterior à eleição, pois é mencionada antes, e que, portanto, a fé também é anterior. Resposta: Falsa hipótese. Não é porque uma coisa é mencionada primeiro que ela é anterior em realidade. Isso é refutado por Mc 1, onde se diz que João batizava e pregava o arrependimento; o batismo é mencionado primeiro, mas a pregação o precede. Igualmente Mt 22: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”; a parte de César é mencionada antes, mas a de Deus é, por natureza, anterior. Além disso, o tornar firme a eleição pode ser entendido quanto à eleição em si ou quanto à certeza reflexa dela. Este último é o sentido aqui. A eleição é o decreto imutável de Deus, que não pode ser revogado (Is 46.10; 14.26). Mas nós a tornamos firme para nós mesmos quando, ao lermos as Escrituras, reconhecemos nelas os sinais dos filhos de Deus e os encontramos em nós.

VIII. Objeta-se que a doutrina da eleição destrói o evangelho. Pois o evangelho diz: “Se creres, viverás”; mas esta doutrina diz: “Se fores predestinado, crerás.Resposta: Os subordinados não se contradizem. O evangelho afirma ambos: “quem crer será salvo” (Mc 16.16) e “todos os que foram ordenados para a vida eterna creram” (At 13.48). Objeção: “Mas isto (‘quem crer será salvo’) é todo o evangelho.” Resposta: Isso é parte do evangelho, não todo o evangelho. Se estas palavras encerrassem todo o evangelho, que dirás então de Rm 9, onde se diz que Deus, por sua vontade livre, decretou condenar alguns? Ou ainda da doutrina de que Deus permitiu a queda para manifestar sua justiça e misericórdia? Ou da afirmação de que os que foram predestinados à salvação o foram também aos meios? Objeção: No evangelho se ensina que Deus quer primeiro que o homem creia, depois que seja salvo; mas esta doutrina afirma que Deus estabeleceu primeiro a salvação, depois a fé. Resposta: Confunde-se aqui a ordem de execução com a ordem do decreto. Na execução, Deus começa pelos meios e chega ao fim; no decreto, começa pelo fim e ordena os meios.

IX. Objeta-se: “Se Deus predestinou uns à fé, então também predestinou outros à incredulidade; o que é absurdo.Resposta: Aquilo que aqui é tido por absurdo não o é, de fato. Pois é certo que Deus predestinou alguns à incredulidade, não absolutamente, enquanto incredulidade é pecado, mas enquanto é meio. Ora, são duas coisas distintas: meio e pecado. De fato, é certíssimo, como atesta o apóstolo em Rm 9, onde tratando do mesmo tema diz: “Para isto mesmo te levantei, Faraó…” indicando que ele foi predestinado a resistir a Deus. Outros também são ditos destinados à incredulidade, como Judas (cf. Jd 4).

X. Objeta-se: “Alguns dos nossos dizem que os fiéis não são eleitos objetivamente, mas terminativamente; logo, os fiéis seriam eleitos enquanto pecadores.Resposta: O sentido é este: que o eleito acabará por crer, ainda que não creia imediatamente após ser eleito — o que é verdade, mas não universalmente, pois nem todo eleito é um fiel “terminativo”; há também eleitos entre os infantes.

A eleição não foi feita com base nas boas obras previstas.

I. Em Rm 9.11-12, toda causa meritória é removida, como se afirma: “não tendo ainda nascido os filhos, nem praticado o bem ou o mal...

II. Se a fé prevista não é causa da eleição, tampouco o serão as boas obras. Mas é verdadeiro o antecedente, como foi claramente demonstrado no aforismo imediatamente anterior. Logo, o consequente também se mantém. A razão da consequência está em que a fé é a causa das boas obras. Portanto, se a fé, enquanto causa das boas obras, não é causa da eleição, com muito menos razão o serão as boas obras, que são efeito da fé.

III. Deus nos criou para as boas obras (Ef 2.9-10). Logo, nada nos é conferido em virtude de obras previstas. Objeção (Arminius): Deus escolheu não os sábios, mas os loucos e fracos, isto é, os humildes e pequenos, não os altivos. Resposta: Argumento vão e interpretação deturpada. (1) O apóstolo mostra quem são e como são os eleitos, não por que foram eleitos; (2) Brinca-se aqui com o termo “escolheu”, que pode ser tomado ou como decreto divino, ou como separação, distinção, seleção. Ora, o apóstolo, no lugar citado, toma-o neste último sentido, e não no primeiro.

Não somos eleitos por causa da fé; antes, é porque fomos eleitos que nos tornamos crentes.

Este é o corolário das teses anteriores. Mas ainda assim se demonstra ex superabundantia, em Ef 1: “[Deus] nos elegeu nele desde a eternidade”, antes, portanto, que existíssemos. Também: “Aqueles que predestinou, a esses também chamou”; ora, é somente após o chamado que a fé ocorre. Logo, não somos feitos eleitos por meio da fé.
Além disso, alguns são chamados ovelhas de Cristo, ou amigos de Cristo, antes de crerem.
Jo 10.11: Cristo se diz o bom pastor, que dá a vida por suas ovelhas. Jo 15.13: afirma sofrer a morte por seus amigos. Se, pois, Cristo morreu por amigos e ovelhas suas, é necessário que, ao morrer por eles, já os considerasse como ovelhas e amigos seus, mesmo que muitos ainda não tivessem sido chamados — conforme o próprio Cristo atesta, no v. 16 do mesmo capítulo, ao chamar de suas ovelhas também aqueles que ainda não se haviam convertido, e, por conseguinte, não eram ainda crentes. Mt 24.24: “Surgirão falsos profetas... de modo que, se possível fora, enganariam até os eleitos.”
Ora, essa sedução atinge tanto os que ainda não foram eficazmente chamados quanto os que já o foram, e mais aqueles do que estes. No mesmo capítulo, v. 22: “Se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos eleitos, serão abreviados aqueles dias.” O que é expresso de forma mais clara em Mc 13.20: “Por causa dos eleitos, que Ele escolheu, abreviou aqueles dias.” Não diz: “que Ele eficazmente chamou”, mas “que escolheu”. Objeção: Tg 2.5: “Porventura não escolheu Deus os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino?” Logo, dizem, Deus nos escolheu com base na fé prevista. Resposta: O apóstolo não fala aqui da causa eficiente da eleição — que é a questão em debate, a saber: se somos eleitos por causa da fé —, mas trata, em parte, do objeto da eleição, e, em parte, dos fins dela. O objeto é indicado nestas palavras: “não escolheu Deus os pobres deste mundo?” — isto é, os pobres, em número maior que os ricos, cf. 1 Co 1.26. Se então perguntas: “A quem Deus escolheu?”, Tiago responde: “Aos pobres deste mundo.” Se perguntas: “Por que os escolheu?”, ou “com que fim os escolheu?”, ele responde: “Para serem ricos na fé e herdeiros do Reino.” Aqui há uma elipse manifesta do verbo το γενέσθαι, isto é, para que fossem. Pois, quanto à herança do Reino, é certo que ela é o fim da eleição — isto é, que Deus elegeu aqueles a quem quis conceder a herança celestial. Assim também se deve entender quanto à fé, pois é claro que ambas (fé e herança) são regidas pelo mesmo verbo, e no mesmo sentido.

A eleição é imutável, de modo que aquele que uma vez foi eleito por Deus para a vida eterna não pode cair da graça de Deus.

O argumento que confirma esta tese é geral: Todo decreto de Deus é imutável (como já foi demonstrado acima); portanto, também o decreto da eleição o é.

I. Objeção: Se a eleição é imutável, então tanto faz se alguém age bem ou mal, o que elimina o zelo pelas boas obras. Resposta: Parte-se aqui de uma hipótese falsa, como se Deus destinasse alguém ao fim sem, ao mesmo tempo, o destinar aos meios. Mas a falsidade dessa hipótese já foi amplamente refutada por nós em outro lugar.

II. Objeção: Os israelitas, que Deus havia escolhido como seu povo peculiar, foram rejeitados. Logo, a eleição não é imutável. Resposta: Quando se diz que os israelitas foram rejeitados, isso não se deve entender a respeito dos eleitos. O contrário é evidente em Rm 9.6. O que se entende é que, antes, Deus havia abrangido com sua graça somente aquele povo, e dEle somente reunia a Igreja; agora, porém, Ele fez de dois povos um só, derrubando o muro de separação (Ef 2.14). Não se diz que Deus recebeu os povos que antes reprovara, mas que agora dignou-se, por sua graça, com aqueles que antes não o eram.

III. Objeção: Jo 17.12: “Nenhum dos que me deste se perdeu, senão o filho da perdição.” Mas aqueles que foram dados a Cristo são os eleitos. Logo, os eleitos podem perecer. Resposta: A partícula ε μή é aqui tomada não no sentido de exceção, mas de distinção (como em Lc 4.26-27). Assim também deve ser entendida aqui, e a conclusão não procede. Judas é chamado de “filho da perdição”, logo, foi dado a Cristo? Logo, foi eleito?  não se segue.

IV. Objeção: Êx 32.32: Moisés pede para ser riscado do livro da vida. Logo, a eleição não é imutável. Resposta: O pedido de Moisés não é absoluto, mas condicionado, de modo que ele submete tudo à vontade de Deus — do mesmo modo como Paulo o faz em Rm 9.3. Obj. Ninguém pede o impossível; logo, também Moisés não. Resp.: O estado do homem, às vezes, é tal que ele pede até mesmo o impossível, mas o faz de modo que ainda respeita a vontade de Deus. Exemplo disso vemos em Cristo, que também pediu o impossível, ainda que submisso à vontade do Pai: “Passa de mim este cálice... mas não se faça a minha vontade, e sim a tua.

Deus, ao eleger, o faz de tal modo que escolhe para a graça e para a glória, conferindo irresistivelmente os meios.

Prova-se, em primeiro lugar, por Romanos 8.30, onde se afirma que Deus nos predestinou para a glória, de maneira tal que todos os meios da salvação lhe são atribuídos como ao próprio autor da salvação. Ora, tais meios lhe são atribuídos de forma a implicar que Ele os realiza irresistivelmente, pois, de outro modo, não se poderia dizer que os que Ele chamou, também justificou. Com efeito, poderia Deus chamar alguns que, no entanto, não viriam.

Segundo, em Efésios 1.3-4, entende-se por bênçãos os meios da salvação. Ora, é costume das Escrituras chamar de bênção não apenas um favor em potencial, mas somente aquilo que se efetiva. Por exemplo: "abençoarei a terra", isto é, "farei com que tenha produção".

Terceiro, a partir da distinção entre os meios, dos quais alguns são chamados próprios e outros impróprios. Meios próprios são a fé e o modo da fé, que geralmente se chama perseverança. Meios impróprios são as boas obras, e estas são excluídas do rol dos meios próprios, pois o meio, em sentido próprio, é, conforme a lógica, ao mesmo tempo meio e causa. As boas obras, porém, de modo algum são causa.

Quanto à fé, é claríssimo que Deus a concede, e de tal modo que aqueles que são eleitos para a salvação (refiro-me aos adultos) necessariamente a possuirão, ainda que não neste momento, mas em tempo oportuno, conforme Atos 13.48.

Arminius levanta uma objeção, dizendo que a expressão “ordenados” ou “preconhecidos” deve ser interpretada como “dispostos”, e não como “ordenados”. Respondemos: é uma invenção vã. Pois, se for assim, Arminius teria de afirmar que o homem não regenerado pode dispor-se para a fé, o que contradiz a própria natureza do homem irregenerado, tal como é descrita pelo Espírito Santo. De fato, tal natureza é de tal modo que não apenas é inapta para perceber as coisas do Espírito de Deus (1 Co 2.14), mas é inimiga e hostil a Deus, pois “a carne não se sujeita à lei de Deus, nem mesmo pode fazê-lo”.

Não vale a objeção de que isso não se diz de todos os eleitos de todos os tempos, mas apenas dos contemporâneos, pois a mesma razão se aplica a todos os eleitos, já que o Espírito Santo testifica que aqueles que Deus preconheceu, a esses também chamou.

Sobre a perseverança, é igualmente certo que aqueles a quem é dada a fé, a estes é igualmente dada a perseverança na fé, conforme Jr 32.39-40. Isso também se demonstra a partir da própria fé: se aqueles que uma vez a possuíram a pudessem perder, então certamente o Espírito Santo não ligaria essa promessa à fé: "quem crê será salvo" (Mc 16.16). Com efeito, não se diz: "quem crer até o fim será salvo", mas simplesmente: "quem crê", o que torna claro que, uma vez conferida, a fé nunca é retirada. Por isso se diz, em Rm 11.29, que os dons e a vocação de Deus são μεταμλητα, ou seja, irrevogáveis. Note-se cuidadosamente que tal passagem não deve ser entendida como "dons e vocação", mas sim como "os dons da vocação", pois sabemos que muitos dons são concedidos aos homens e depois retirados. Portanto, o que se entende aqui são os dons próprios da vocação. Expressão semelhante ocorre em Rm 1.5: “por quem recebemos graça e apostolado”, ou seja, a graça do apostolado. Assim também Virgílio: libavam pateris et auro, ou seja, "com taças de ouro". Ora, é desses dons da vocação que se diz serem μεταμλητα, e isso é uma metáfora antropopática: assim como o homem, ao se arrepender, muda seu feito, Deus é dito “não se arrepender” no sentido de não revogar seus dons. Quanto às boas obras, dizemos que são meio apenas em sentido impróprio. Pois um meio, em sentido próprio, é também causa. As boas obras, contudo, de modo algum o são. E, embora sejam concomitantes à fé — a ponto de, onde não existirem, não haver verdadeira fé (cf. Tg 2) —, dizem-se em Gl 5.6 como aquilo que torna a fé eficaz, ou seja, que a fé opera mediante a caridade. Mas isso não deve ser entendido à maneira dos papistas, como se a caridade conferisse à fé seu valor e a tornasse eficaz. A expressão é semelhante à de 1 Ts 2.13: "a palavra de Deus é eficaz nos que creem", o que, interpretado toscamente à maneira dos papistas, implicaria que os fiéis acrescentam eficácia à Palavra. O sentido, porém, é este: a Palavra é eficaz nos que creem, porque nela opera a fé. Do mesmo modo, diz-se que a fé é eficaz pela caridade, ou seja, que opera mediante a caridade. Quarto, Romanos 9.11 mostra que somos eleitos para o fim, de tal modo que também somos eleitos para os meios. E somos eleitos para os meios de forma tal que, em tempo determinado, Deus os confere de modo que os fiéis os tenham necessariamente. Isso se prova pela declaração de que o propósito de Deus permanece firme. A eleição é firme, mas não o seria se os meios não fossem também certos. Pois, na execução, o fim depende dos meios. Se o fim é certo, os meios também o serão. Objeção: a eleição permanece firme, mesmo que não haja meios. Pois Deus apenas determinou que qualquer um que crer será salvo; mas não quanto a indivíduos em particular, como João ou Pedro. Da mesma forma que um príncipe estabelece uma lei dizendo: “quem a cumprir receberá tal prêmio”. Resposta: isso é impróprio. Demonstramos acima que a eleição é de pessoas singulares. Segundo, o próprio Espírito Santo, no capítulo 11 da Epístola aos Romanos, trata e resolve essa questão ao dizer que Deus elegeu Israel e o rejeitou. Como então permanece firme a eleição? Responde-se que permanece firme porque “nem todos os que são de Israel são Israel” (Rm 9.6), e Deus rejeitou aqueles que não eram verdadeiramente Israel; mas não os que eram verdadeiramente seu povo.

I. Objeção, ao dizermos que Deus elegeu os homens tanto para a salvação quanto para os meios, e que Ele confere os meios aos eleitos, poder-se-ia objetar que Deus então elege o fim, mas não os meios. Seria como se um pai desejasse que seu filho fosse conselheiro e o enviasse à escola, mas sem necessariamente lhe fornecer os meios para isso. Assim também Deus, ao não conferir necessariamente os meios, anularia a liberdade do homem. Resposta: primeiro, isso pressupõe falsamente que a liberdade não pode coexistir com a necessidade da imutabilidade, o que é falso. Segundo, se Deus quer o fim, mas não quer os meios, então, com efeito, não quer seriamente o fim, o que é absurdo. Mas, se quer o fim, também quer os meios e, portanto, os realiza. Pois tudo quanto Deus quer, Ele realiza (Sl 115.3).

II. Deus abandona o homem a si mesmo. Pois o Espírito Santo atribui ao homem a confecção de sua salvação, conforme Fp 2.12, e assim os homens seriam, de certo modo, os próprios salvadores. Resposta: primeiro, o Espírito Santo nunca atribui o nome de “Salvador” a ninguém senão exclusivamente a Cristo, conforme Atos 4.12. Segundo, quanto à passagem de Fp 2.12, "efetuai a vossa salvação", não significa que se deva realizar a salvação por mérito, satisfação ou aquisição, pois nenhum fiel pode realizar sua própria salvação nesse sentido, dado que “não há outro nome” (At 4.12). Se se pergunta: de quem é a salvação? Não é, porventura, daquele que está perdido? Mas esse que se perdeu não pode ser causa da sua própria salvação, nem ao menos ao se aproximar dela ou ao participar dela — e é esse o sentido da passagem. Aproximamo-nos da salvação pela fé, assim como a fé acolhe todas as promessas de Deus, inclusive a da salvação.

III. Mesmo que se conceda que os meios são conferidos, não o são a cada indivíduo. Qual seria então o propósito da distinção entre graça suficiente e graça eficaz? Resposta: primeiro, os que imaginam essa distinção se contradizem. Pois, se a alguns é dada graça suficiente, como não será ela também irresistível, preservando a liberdade da vontade? Segundo, até os dominicanos ridiculari­zam essa distinção. Pois graça suficiente é aquela à qual nada falta. Logo, requer três graus de suficiência: primeiro, que se possa fazer o que Deus quer; segundo, que se queira o que Deus quer; terceiro, que se efetive o que Deus quer. Ora, se alguma graça chamada "suficiente" não contém esses três graus, como pode de fato ser chamada suficiente?

A eleição, quanto à razão do fim, isto é, enquanto está na intenção divina, não é ato de misericórdia, mas de beneplácito e de poder absoluto de Deus; contudo, enquanto está na execução, é também ato de misericórdia.

Quanto ao aspecto da intenção, isso é certo; pois ainda não havia pecadores considerados como tais, para serem deixados na queda. Quanto ao aspecto da execução, isso também é certo; pois, como diz o Espírito Santo na Epístola aos Efésios, capítulo 1: “Escolheu-nos n’Ele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante d’Ele.” Ora, se nos escolheu para que fôssemos santos e irrepreensíveis, então nos escolheu quando ainda não éramos santos nem irrepreensíveis, ou seja, pecadores. Logo, é por misericórdia.

 

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