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A CESSAÇÃO DA PROFECIA ANULA O USO FEMININO DO VÉU? DE MANEIRA NENHUMA


Resposta ao apóstolo da teologia de boteco, o conhecido cessacionista patético brasileiro.

Método: Não vislumbro outro modo de expor uma posição e oferecer-lhe a devida resposta senão nos moldes de nossa ilustre tradição, a qual sempre soube lidar com disputas teológicas contra os mais diversos opositores e detratores. A diferença é que, outrora, a grandeza e a destreza das objeções eram ricas em significado lógico e teológico, riqueza esta que tanto carece em muitos que hoje levantam questões polêmicas e respondem de si mesmo sem amparo em piedade alguma transmitida no passado. Seguirei a seguinte ordem: (1) exporei as objeções de meu oponente (videtur quod); (2) em seguida, apresentarei uma breve contradita, que servirá de base para minha resposta (sed contra); (3) por fim, concluirei respondendo às três objeções possíveis.

O uso da cobertura por parte da mulher cessou? Parece que sim,

Pois o Apóstolo diz: “Toda mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta desonra a sua cabeça” (1Co 11.5). Ora, a profecia e as línguas estão enumeradas entre os dons carismáticos temporários (cf. 1Co 12.10), os quais, segundo 1Co 13.8, “hão de cessar”. Logo, cessando tais dons, cessa também a obrigação ligada a eles.

Contudo,

O mesmo Apóstolo fundamenta o uso do véu na ordem da criação ao dizer que “o homem não deve cobrir a cabeça, pois é imagem e glória de Deus; mas a mulher é glória do homem” (1Co 11.7), e ainda apela à presença dos anjos (v. 10) e ao costume das igrejas (v. 16). Ora, princípios de criação e da adoração celestial são permanentes, não cessando com dons temporários. Logo, a obrigação não se vincula essencialmente à profecia.

EXPOSIÇÃO DOS ARGUMENTOS

Em primeiro lugar, devemos abstrair a razão intrínseca do argumento cuja proporção o objetor estabelece ao fazer cessar o uso do véu por haver nele uma relação textual com a profecia. Tal razão se encontra no seguinte princípio: se uma instrução bíblica se apresenta no contexto de dons carismáticos temporários, ela só é válida enquanto tais dons existirem. Não é injusto abstrairmos esse princípio, pois, se não fosse assim, qual seria o fundamento para negar o uso do véu pelo simples fato de o dom de profecia ter cessado? Ora, não foi o próprio opositor que afirmou, valendo-se do texto bíblico, que “a mulher que ora e profetiza” deve usar véu, e, logo em seguida, concluiu que, tendo cessado tal dom, o uso do véu se tornou inválido? Que injustiça, então, haveria no princípio de razão intrínseca que infiro da explicação desse opositor? Quero crer que fui justo em considerá-lo, sem qualquer desonestidade.

Contudo, tal princípio de razão intrínseca revela-se falso, pois contradiz as próprias convicções do próprio objetor. Pois, pelo mesmo critério, o silêncio feminino nas assembleias (1Co 14.34-35) também se encontra no contexto dos dons carismáticos (capítulos 12–14). Se a obrigação do uso do véu caiu em decorrência do cessar da profecia, então igualmente cairia a proibição de falar para as mulheres. Além disso, a ordem e a edificação no culto (1Co 14.26-40) estão inseridas nesse mesmo contexto; logo, poderíamos abolir a necessidade de ordem na reunião, uma vez que as orientações estariam vinculadas a dons que cessaram. Da mesma forma, a Ceia do Senhor (1Co 11.17-34), ensinada dentro do mesmo bloco de práticas cultuais, poderia ser considerada “contextual” e, portanto, não mais obrigatória. Talvez alguém o defenda, alegando que meu raciocínio é falacioso por não considerar as especificidades de cada caso. Contudo, respondo com a mesma objeção: o autor reduz o uso do véu ao dom da profecia, sem levar em conta, sequer na mesma sentença, a razão subjacente, a oração, que é um elemento ordinário e mandamento explícito, nem o argumento da ordem criacional que Paulo estabelece (vv. 7-9), onde se fundamenta a distinção entre honra e desonra mencionada no texto (v. 3). Tampouco considera a relação do uso do véu com a presença dos anjos (v. 10) e, pasme, o costume da igreja, que Paulo deixa claro não ser objeto de contenda (v. 16). É curioso observar como certos argumentos se sustentam em visões tão estreitas que fariam inveja a um microscópio mal calibrado. Restringir a discussão a um único versículo, desconsiderando o contexto imediato e os fundamentos complementares, revela não apenas um desleixo hermenêutico, mas também uma superficialidade preocupante. E já que o objetor insiste em limitar sua abordagem a esse fragmento isolado, permitam-me descer ao seu nível retórico, não para me rebaixar, mas para desmascarar esse sofisma primário e deixar claro que tal argumento não procede de um verdadeiro teólogo, pelo menos, não quando o contexto é cuidadosamente considerado. Aqui quero me alongar um pouco para mostrar como esse princípio revela ainda mais o quão infundado se mostra meu opositor enquanto professor de teologia, pois ele sequer considerou que a associação entre duas coisas pode ocorrer de modos diversos, segundo a lógica mais básica: (1) per se, por uma necessidade essencial, isto é, a associação ocorre quando uma coisa depende completamente de outra para existir ou ter valor; (2) per accidens, por uma razão concomitante, circunstancial na relação, explicando, elas estão associadas por coincidência no tempo ou contexto, mas uma não depende da outra para existir ou ter valor. São coisas que podem ocorrer juntas, mas não são essencialmente ligadas; (3) per institutionem, de dependência institucional, ou seja, a associação ocorre quando uma coisa é formalmente estabelecida como parte essencial de outra por uma regra, norma ou instituição; (4) per significationem, de sinal ou coisa significada, essa associação ocorre quando um sinal (como um símbolo ou ritual) aponta para uma realidade maior. O sinal tem sentido porque representa essa realidade. Se a realidade que o sinal representa deixa de existir, o sinal perde seu propósito ou significado, a menos que seja reinterpretado ou reinstituído de outra forma. Dado estas regras claras de relação, voltemos ao argumento do opositor que faz uma relação direta do uso véu com o dom de profecia.

Caro leitor, essa relação pode ser per se, isto é, essencial? De maneira nenhuma, pois se assim fosse, os homens também deveriam usar véu, algo que o texto claramente nega. Seria, então, uma associação per accidens? Poderíamos, sim, admitir essa possibilidade se a referência à “mulher que ora e profetiza” fosse uma descrição literal do que acontecia na igreja primitiva. Contudo, creio que Paulo emprega essa expressão numa relação retórico-argumentativa com o versículo anterior (“todo homem que ora e profetiza”, v. 4). Assim, há duas possibilidades: ou Paulo não se refere ao exercício público da mulher no culto, mas a outro momento específico, conforme Calvino explica, quando diz que “o apóstolo espera das mulheres conduta modesta não só no local onde toda a congregação se reúne, mas também em outras reuniões formais, como as domésticas”; ou então está usando uma situação hipotética. No primeiro caso, a associação seria per accidens, mas tal associação não sustenta a ideia de que, cessando o dom da profecia, cessa também o uso do véu. Poderia ser uma associação per institutionem? Tampouco, pois o próprio apóstolo, capítulos depois, proibirá a mulher de falar no culto, associando a fala à autoridade e fundamentando-se na autoridade veterotestamentária (1Co 14.34), algo que demonstrarei com mais detalhes adiante. Por fim, restaria a associação per significationem; porém, essa também não procede, pois o véu não é um sinal da autoridade feminina no exercício de orar e profetizar, mas um símbolo de submissão. Vejam meus queridos, é notório que tais distinções são basilares, não apenas para a lógica mais elementar, mas para qualquer tratamento sério da teologia. No entanto, é deveras curioso e até digno de certa compaixão que o opositor nem ao menos se dê ao trabalho de considerá-las. É como se, num tribunal de lógica e exegese, ele aparecesse munido apenas de um martelo e, diante da complexidade das questões, decidisse que tudo se resume a pregar pregos, desconsiderando ferramentas básicas como o nível, a régua e o compasso. Assim, amigos e leitores atentos, somos convidados a testemunhar esse triste espetáculo. E, se alguém supõe que a célebre frase de Spurgeon, “chegará o dia em que, em vez de pastores alimentando ovelhas, teremos palhaços entretendo bodes”, aplica-se apenas aos pentecostais, engana-se redondamente. Tal realidade manifesta-se também entre os reformados, com uma diferença sutil: enquanto alguns pentecostais simplificam a sã doutrina (isto quando a ensinam) na prática, certos reformados a empobrecem no intelecto. Que Deus, em sua infinita graça, ilumine as mentes daqueles que se perdem nesses desvios e os reconduza ao caminho firme da razão e da tradição. Porém, como mencionei inicialmente, limitei-me a desmontar a razão intrínseca do argumento, que serve de alicerce para o castelo de areia que o opositor, com ousadia ingênua, tentou erguer. Agora que a base foi varrida pela maré da lógica, sigamos adiante para desmantelar os frágeis torreões que ainda restam, antes que essa construção precária desmorone por si só, deixando apenas um rastro de constrangimento maior do que qualquer refutação bem articulada poderia causar.

O uso do véu como signo da submissão feminina

Ao examinarmos as Escrituras, percebemos que o véu está intrinsecamente ligado à submissão, sendo uma das expressões mais claras de modéstia e honra feminina. No Antigo Testamento, encontramos esse padrão no exemplo de Rebeca que, ao avistar Isaque ao longe, “tomou o véu e se cobriu” (Gn 24.65). Até mesmo as prostitutas da antiguidade oriental, como deduzimos do relato de Tamar, usavam o véu em certos contextos. Cansada de esperar pelo filho de Judá, Tamar “despiu as vestes de sua viuvez, cobriu o rosto com um véu e se disfarçou” (Gn 38.14). Judá, ao vê-la, “teve-a por meretriz, pois ela havia coberto o rosto” (Gn 38.15). Da mesma forma, ao profetizar a queda da Babilônia, Isaías declara: “Tira o teu véu” (Is 47.2), associando esse ato, no versículo seguinte, à vergonha que seria revelada (Gn 47.3). Esses exemplos evidenciam que o véu simbolizava modéstia e respeito, refletindo a submissão exercida pela mulher. No Novo Testamento, o apóstolo Paulo, dirigindo-se à comunidade gentílica de Corinto, escreve: “Eu vos louvo porque, em tudo, vos lembrais de mim e retendes as tradições, assim como vo-las entreguei” (1Co 11.2). Esse elogio, surpreendente em meio às muitas críticas que Paulo dirigiu e ainda dirigiria àquela igreja, pode ser comparado a um teólogo de Westminster que, ao observar uma igreja presbiteriana em seu culto, começasse por elogiá-la por sua adesão à Confissão de Fé e aos catecismos, antes de apontar, com severidade, a hipocrisia e a desobediência em relação ao que foi ensinado. Contudo, um ponto crucial emerge aqui: o que Paulo apresenta a seguir não é apenas uma prática local, mas uma tradição e um costume observado em todas as igrejas de Deus (1Co 11.16).

Será que o nosso sapientíssimo opositor percebeu a clara noção de transmissão de costumes e tradições no texto de Paulo? O apóstolo inicia o discurso da perícope tratando de “tradição” e o encerra apontando para a mesma direção, recurso que, na exegese, se denomina envelope. Se alguém quiser interpretar o versículo inicial como uma referência ao modo como aquela igreja se comportava no passado, interpretação seguida por Calvino, não me atreverei a dirigir-lhe críticas severas; afinal, não ouso falar de forma leviana contra um exegeta de tão alta estatura. Pelo menos tento. Ainda assim, concordo mais com outra posição: a de que Paulo emprega ironia justamente para introduzir o assunto do véu e, ao final, pelo próprio conteúdo dessa ironia, confirmar e autenticar a prática do seu uso. Contudo, atentem para isto: quando o nosso ilustre opositor relaciona o uso do véu ao dom de profecia, anula por completo o sentido da submissão que o véu sinaliza, pois, a profecia é, em si mesma, uma expressão de autoridade e, segundo a sua própria definição, nada menos que a recepção de uma revelação divina. Nisso, admito que concordo com ele; ainda que, mesmo aqui, seja visível como empobrece o significado, até porque ele lê as Escrituras como quem monta um quebra-cabeça de 1.000 peças com apenas 3 na mesa… e ainda se gaba de ter visto o quadro inteiro, chega até dizer que ninguém jamais estudou como ele. Concordo: ninguém realmente estudou assim, e há bons motivos para não repetir a experiência.

Ora, é certo que Paulo afirma: “Ele mesmo [Cristo] concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres” (Ef 4.11). Notem que todos esses ofícios estão intrinsecamente ligados à Palavra. A Escritura também declara: “O que profetiza fala aos homens edificando, exortando e consolando” (1Co 14.3). E, no mesmo contexto, o apóstolo equipara o dom de profecia à instrução, ao dizer: “Prefiro falar na igreja cinco palavras com entendimento, para instruir outros, a falar dez mil palavras em outra língua” (v.19). Portanto, é correta a visão do objetor de que a profecia consiste na comunicação e transmissão de revelação. Concordo. Contudo, essa transmissão pode ocorrer tanto de forma extraordinária quanto ordinária. Ou seja, ainda que o dom extraordinário (revelação imediata) tenha cessado, a função ordinária de “profetizar” (ensinar, exortar e consolar pela Escritura) permanece viva e necessária na Igreja por meio de seus ministros. Seja qual for a objeção que o opositor levante, ele terá de negar o sentido ordinário do dom para atingir a minha definição. Timóteo recebeu de Paulo a seguinte exortação: “Até à minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino” (1Tm 4.13). Aqui, o apóstolo ordena que o evangelista leia publicamente as Escrituras e as pregue à Igreja. Tanto que prossegue: “Não negligencies o dom que há em ti” (v.14). Não esqueçamos que Paulo está instruindo um pastor, naquele contexto, sobre como proceder “na casa de Deus” (1Tm 3.15), ou seja, no culto público. O mesmo padrão se vê quando Paulo entra na sinagoga de Antioquia da Pisídia, as Escrituras dizem que “Depois da leitura da Lei e dos profetas, os chefes da sinagoga lhes mandaram dizer: Irmãos, se tendes alguma palavra de exortação para o povo, dizei-a” (At 13.15). Observem: em um culto público, a leitura das Escrituras era seguida por palavras de exortação. E o texto prossegue: “Paulo, levantando-se e fazendo com a mão sinal de silêncio, disse...” (v.16). Sabemos que Paulo pregou o que lhe fora revelado e, ao fim, foi convidado a continuar pregando ali. Compare-se isso com a regulamentação que o próprio apóstolo dá ao culto cristão: “Se, porém, vier revelação a outrem que esteja assentado, cale-se o primeiro” (1Co 14.30), e a menção, logo em seguida, à instrução e consolação.

Em um determinado momento, reagindo a um vídeo do Rev. Hernandes Dias Lopes, o opositor recorreu ao verbo grego ποκαλύπτω para sustentar que, por associação a Ef 3.3-5, a profecia deveria ser entendida exclusivamente como algo imediato e totalmente novo, e não, nas palavras dele, como “saber as informações que se vai transmitir a partir do texto revelado”. Ora, se esse raciocínio fosse seguido à risca, qualquer pessoa minimamente inteligente se tornaria continuísta ao perceber que o termo também é usado para a iluminação dos eleitos de Deus (Mt 11.25-27); para expor a hipocrisia legalista (Lc 12.2); para a manifestação visível do Filho de Deus (Lc 17.30) e do filho da iniquidade (2Ts 2.3); para um esclarecimento divino diante de nossa imperfeição (Fp 3.15); e até em relação direta com a pregação (Jo 12.38; 1Co 2.10). Sim, é verdade que o termo ποκαλύπτω pode, em certos contextos, referir-se a uma revelação imediata, nova e extraordinária (Gl 1.16; Ef 3.5; 1Pe 1.12). Mas seu sentido é mais amplo: significa manifestação clara, evidente e inegável — e não se limita a fenômenos extraordinários. Restringi-lo exclusivamente ao aspecto milagroso é amputar o campo semântico do termo. A ironia é que a situação fica ainda mais constrangedora para o ilustre opositor quando ele próprio lê em seu catecismo (o que, aliás, prova que antes de se aventurar na teologia polêmica convém ser devidamente catequizado) que Cristo exerce a função de Profeta “revelando à Igreja, em todos os tempos, pelo seu Espírito e Palavra, por diversos modos de administração, toda a vontade de Deus em todas as coisas concernentes à sua edificação e salvação” (CMW, questão 43). Pergunto: o ofício profético de Cristo cessou, então? [para saber mais do dom de profecia, vá ao meu artigo sobre o cessacionismo] Evidentemente que não. O que cessou foi apenas o aspecto extraordinário pelo qual apóstolos e profetas lançaram o fundamento da Igreja. Novamente, quero advertir, especialmente os que estão dando os primeiros tropeços na teologia, e mais ainda o meu nobre opositor: se a sua “teologia” se sustenta apenas em um ou dois versículos arrancados do contexto, faça um favor a si mesmo (e ao mundo): jogue essa tralha no lixo. Doutrina bíblica de verdade não é coleção de figurinhas de versículos, mas compreensão da progressividade da revelação, da unidade pactual, dos elementos de continuidade e descontinuidade entre as administrações do pacto. Ignorar o conjunto das Escrituras para abraçar meia frase isolada fará de você exatamente isso: um mau teólogo… e, pior ainda, um mau teólogo confiante. Quer desgraça maior que essa? É como querer julgar um banquete apenas pelo cheiro do guardanapo, e ainda sair convencido de que é chef.

Voltamos ao texto, e lemos que “o homem que ora e profetiza” e, à luz do contexto mais amplo das Escrituras e do pensamento paulino, fica evidente que ele está falando aqui dos ministros, sejam os que exercem a função ordinária ou extraordinariamente. Quando a situação das viúvas começou a exigir demais da Igreja, os apóstolos instituíram o diaconato dizendo “quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da Palavra” (At 6.4) e, claramente isto se estende aos ministros que assumem a função apostólica, ainda que não tenha a singularidade deste ofício e nem os mesmos dons resultantes deste ministério fundacional, mas eles são chamados “despenseiros dos mistérios de Deus” (1Co 4.1) e administram os sacramentos, assim como os ministros (Mt 28.18-20), pelo que a função de profecia é de autoridade. Por esta razão, o versículo que diz “a mulher que ora e profetiza” ou trata-se de um artifício retórico apenas para ilustrar o ponto que Paulo quer demonstrar ali, ou se trata de como a mulher deve-se comportar em outras situações fora do culto solene, fico com o primeiro, Calvino fica com o segundo.

CONCLUSÃO

Acredito que até aqui foi o suficiente para demonstrar o erro e proclamar a verdade, mas ainda há uma coisa muito importante a ser dita para calar a voz do engodo abjeto que tem sido defendido como verdade, o uso do véu procede da esfera natural, por mais corrompida que ela estivesse sido. O nosso querido objetor sente um gosto de mel na boca ao ter que ler “porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva” (1Tm 2.13) e não hesitará em dizer que há um princípio criacional aqui que impede que mulheres exerçam autoridade, falando no culto público, para o ensino da Igreja. Ele não considerou que Paulo usa o mesmo argumento criacional ao defender o uso do véu na Igreja de Corinto? Isto também serve a todo e qualquer incoerente reformado que rejeita o uso do véu na atualidade, Paulo não apela para a questão cultural, mas para a criação. E assim como é vergonhoso ao homem uso comprido do cabelo, semelhantemente a mulher é vergonhoso não usar o véu. Ora, creio que de tudo o que foi dito aqui, o cerne da objeção de nosso opositor foi respondido, creio que com sucesso. E se o senhor, opositor, chegou até o final deste artigo sem rir de minhas respostas, talvez seja porque percebeu que, desta vez, quem estava sendo motivo de riso era o senhor mesmo, todavia se agora o senhor riu ótimo! Significa que, mesmo quando está perdendo, o senhor ainda consegue se divertir, embora, nesse caso, o palhaço não seja eu. Perdoe-me, caro leitor, o tom adotado; mas não posso rebaixar a doutrina da verdade apenas para poupar a suscetibilidade de alguém cujo caráter demonstra que o próprio ego lhe é mais precioso que qualquer confronto genuíno e bem-intencionado.

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