Certamente, a palavra radical deve ser um termo de relação, e não uma palavra que corresponde a um ente real, pois quando se atribui a alguém o título de "extremista", "radical" e às vezes "legalista" (essa última certamente como uma ofensa) está definido alguém em relação a um padrão determinado em seu intelecto. Atualmente, alguns tem chamado os reformados confessionais de extremistas, justamente porque são fiéis as Sagradas Escrituras e ao ensino exposto nas confissões reformadas, aqui especialmente, a de Westminster. Porém, a reforma suíça (a reforma a qual somos herdeiros) foram chamados de radical em vista daquilo que estava acontecendo com a Alemanha, pela reforma de Luterno. E isso se estende também aos puritanos, que contrário aos anglicanos, queria um culto mais puro que tivesse elementos que foram ordenados e regulados por Deus em sua palavra. Conclui-se que, reformados, à luz da história da reforma, em comparação com os demais protestantes magistrais (digo magistrais, para remover os Anabatistas, estes sim, hereges da pior espécie) são conhecidos por essa natureza radical, quero crer que luteranos e anglicanos não vão discordar de minha posição aqui.
Logo, quando alguém me chama de radical, duas questões são pertinentes para me sentir ou ofendido ou contente por essa afirmação: (1) qual o padrão que torna-se fixo na mente de alguém que me chama de extremista? (2) esse padrão corresponde a natureza histórica da confessionalidade reformada? Como adepto do Princípio Regulador do Culto, confesso que "o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo e tão limitado pela sua vontade revelada, que não deve ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens ou sugestões de Satanás nem sob qualquer representação visível ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras" (CFW, 21.1). A verdade desta sentença implica que a antítese seja mentira. Se eu gosto disso? Da lógica sim, das consequências que ela me impõe, às vezes reluto, mas isto é tolice minha. Com minhas próprias palavras, posso lhes garantir que estou convencido de que todo culto que não possui, seja por omissão ou ignorância, os elementos ordenados por Deus nas Escrituras, ou acrescentam-se aos elementos, formas e elementos não prescritos ou regulados, não é um culto agradável a Deus, antes odioso, ímpio e sem valor algum diante de Deus. E diante desses horríveis dias onde a inteligência só possui valor se a sua expressão de inteligência possuir uma estética agradável ou palatável a conveniência moderna, entendo os que verão minha posição com olhos maus.
Com relação a primeira pergunta, as respostas são diversas, mas como estou me direcionando aos reformados em si (pois certamente eu não quero saber de sua opinião, se pertences a outro modo de pensar, pois não tenho nenhum compromisso com ela), a mais comum que me aparece nesse meio moderno é o princípio do Sola Scriptura. A resposta é mais ou menos esta: uma vez que temos as Sagradas Escrituras como única regra de fé e prática, a ela que devemos recorrer para estabelecer a doutrina da Igreja, não as confissões ou catecismos. Uma vez que a Bíblia é padrão, ser mais do que ela manda ser, é legalismo, extremismo e radicalismo. Consideremos a resposta: (1) partem do pressuposto confessional para estabelecer um padrão; (2) fazem uma separação entre o ensino confessional e o ensino bíblico, pressupondo que há alguma divergência entre aquilo que a Bíblia diz com aquilo que a Confissão ou catecismos ensinam; (3) o padrão interpretativo sai da esfera eclesiológica, da Igreja, e passa a assumir um caráter personalizável e a confissão da Igreja e suas práticas não são mais uma unidade, mas como vemos nas Escrituras "cada um anda conforme aquilo que acha correto". Realmente, a mistura de mentira com meias verdades torna o discurso bem bonito, mas em termos lógicos, é tão incoerente com a realidade que chega a ser surpreendente aqueles que aceitam todas as assertivas deste argumento, pois:
I. Usa-se um princípio confessional para anular uma parte da confissão. Com isso, o padrão deles é a confissão filtrada pelos interesses ou influências atuais ou particulares, o que claramente é uma atitude desonesta, perigosa e destrutível. Ao usarem o princípio do Sola Scriptura em detrimento daquilo que discordam da confissão ou dos catecismos, recaem em outro dilema epistemológico: se se pode negar um ponto da confissão por achar que ela está errada, porque outro não pode pela mesma razão negar a Autoridade Suprema da Escritura? Alguém poderá responder pela Escritura a razão desse, mas ao se deparar com alguém que nega a Escritura como autoridade suprema, certamente tais respostas não terão finalidade devidas ao debate, portanto, o Sola Scriptura perde o sentido neste argumento, pois diferente dos papistas que negam este princípio para contrariar e acrescentar a ela outras doutrinas, protestantes reconhecem o testemunho da Igreja como uma autoridade subordinada a Palavra de Deus.
II. Não admitem que os documentos em que subscrevem são exposições fiéis da Doutrina Bíblica, fazendo com isso uma distinção entre ensino confessional e ensino bíblico, colocando-os em guerra quando os convém. Sem isso, não há outro padrão de interpretação das Escrituras que não seja eles ou o consenso dos teólogos modernos, o que já contradiz o tópico primeiro, pois estão prontos a questionarem a Assembleia de Westminister usando o princípio do Sola Scriptura, mas não fazem o mesmo com reverendos modernos, como por exemplo, Augustus Nicodemos ou Hernandes Dias Lopes.
Outros são confessionais temerários, afirmam e negam a confissão, colocam em posição de destaque, mas cedem a conveniência moderna e torna obsoleto o padrão de culto confessional, como se isso fosse um padrão confessional. Esses dias mesmo um amigo meu fez questão de se revoltar contra o princípio regulador do culto, dizendo que os outros modos de cultuar, embora não sejam executados pelo Princípio Regulador, são aceitos por Deus. Eles pervertem o sentido original da Confissão, dão aos termos outro significados e querem se assumir confessionais ou reformados.
Quanto a segunda pergunta, estes sofistas tem medo que se apresentem a confessionalidade em sua integridade, pois se fossem apresentados a Assembléia de Westminister, se pastores, seriam exonerados do cargo, se membros, voltariam para o catecúmeno e se rebeldes, tratados como impenitentes. Dado que o culto apresentado a Deus hoje, além de não se alinhar com as Escrituras (ainda que enganosamente achem o contrário), certamente afronta o ensino confessional. Fazem distinções, espantalhos e caricaturas dos puritanos, detestam o zelam que tinham com as Sagradas Escrituras. Uma vez que a confessionalidade é o padrão que define a identidade e teologia dos reformados, essa posição atual de aderir a esse politicamente correto deste século, essa infidelidade disfarçada de relevância e amor cristão como também essa desobediência descarada que está havendo entre os reformados mostram, que eles devem calar a boca ao verem pentecostais ou carismáticos e desaprovarem suas práticas, pois é fácil olhar o cisco no olho de um quando nossas igrejas tem uma trave, permitindo homenagens na hora do culto, deixando o cântico de salmos e aderindo a músicas estranhas a nossa liturgia, permitindo às mulheres o uso do púlpito para pregação, ensino ou como guias da liturgia na Igreja em culto público, a falta de interesse pela prática da pregação expositiva, até a criação de conferências de avivamento (a coisa mais ridícula nesse meio), a permissão de músicas criadas por movimentos estranhos e heréticos (como os metodistas e voz da Verdade), a retirada de crianças do templo na hora da pregação, a quebra constante do segundo mandamento permitindo a representação física de Jesus Cristo, a falta de expor a Confissão e os catecismos na Igreja, entre muitas outras coisas. Eu realmente queria estar com raiva, enfurecido e revoltado, mas sinceramente meus irmãos, eu sofro todos os dias por esses comportamentos, pois tento me disciplinar ao máximo para ser um cristão confessional, mas isto atualmente está atrapalhando muito as igrejas, por isso, certamente minha vontade de ser pastor está minguando. Aliás, com essa minha posição, é bem capaz que eu nunca seja aceito em uma igreja como pastor. Farão um favor para mim, com todo respeito.
Concluo dizendo que a confessionalidade é um conjunto de crenças, princípios, símbolos e práticas que se explicitam na vida de uma pessoa ou instituição. A lógica é simples, ao assumir a posição confessional, se afirma o que está nos documentos, nega o que se opõe a ela. Ser reformado é ser confessional, e a confessionalidade é formal e integral. Pode ser que você não encontre uma estética no meu texto, podes achar inconveniente, inflexível, mas não podes negar o que falo, exceto mentindo sobre sua própria tradição.
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