ONISCIÊNCIA DIVINA (JOHANNES MACCOVIUS)
Passamos à Ciência de Deus, pela qual Deus conhece todas as coisas. Por isso é chamada de onisciência. Esta ciência é de duas naturezas: de simples inteligência ou de visão. Esta ciência de Deus pode ser de duas espécies: dos possíveis, segundo os teólogos escolásticos, ou dos futuros.
A ciência de
simples inteligência (scientia simplicis intelligentia) é aquela pela
qual Deus sabe o que é possível e o que não é, mesmo que aquilo nunca venha a
ser.
Assim, Ele sabe que pode fazer dos filhos de
Abraão pedras, mesmo que nunca vá fazê-lo. Esta ciência se baseia no poder
absoluto de Deus e na ordem da natureza, precedendo a ciência de visão. Deus
não decretou nada sem saber que era possível; a partir disso, Ele sabe o que
será, porque o decretou.
A ciência de
visão é aquela pela qual Deus conhece o que há de vir.
Esta se baseia no decreto definido de Deus e
tem como fundamento o poder ordenado de Deus, o que é evidente a partir de: (1)
O Espírito Santo declara que todas as coisas que acontecem foram decretadas,
conforme (Lm 3.37). (2) O Espírito Santo utiliza o termo "prever"
para significar "predestinar", como em Mateus 26, onde a
paixão de Cristo foi predita, e em Lucas 22, onde se diz que foi predestinada. Esta
ciência de visão de Deus, que nas escolas também é chamada de ciência dos
futuros e prática, é a causa da existência futura de todas as coisas. Assim
dizem os doutores escolásticos: res sunt, quia Deus scit; non scit, quia sunt
“As coisas são porque Deus as conhece; Ele não as conhece porque elas são”. Sobre
esta ciência, devem-se observar os seguintes princípios ou enunciados:
I. Deus, com esta
ciência, conhece não apenas as coisas que necessariamente acontecerão, mas
também as coisas que acontecerão contingentemente.
Quanto à verdade da primeira parte, ninguém dúvida,
exceto um ateu; a segunda, porque é questionada por vários que desejam ser
considerados cristãos (o que é lamentável), deve ser afirmada por nós aqui.
Portanto, prova-se que Deus conhece todas as coisas contingentes. (1) Pois tudo
acontece e existe porque Deus previu (Lm 3.37); (2) Onde Deus faz a distinção
entre Ele e os falsos deuses, e quer ser reconhecido como o verdadeiro Deus
porque prevê e prediz o futuro (Is 41.22-23). Objeção: Deus diz "quæ",
isto é, "algumas". Portanto, não todas. Resposta: Absurdo.
Pois Ele diz indefinidamente "quæ eventura". E a partícula
indefinida nas Escrituras deve sempre ser considerada como universal, a menos
que haja uma restrição do mesmo gênero; (3) Deus predisse algumas coisas
contingentes, que também se cumpriram, por exemplo, na crucificação de Cristo,
a previsão de que Seus ossos não seriam quebrados. Se Deus conhece algumas
contingências, o adversário deve explicar por que não todas. Pois a razão de
uma contingência é a mesma para todas; (4) Se Deus não conhece as contingências
futuras, então elas não estão sob Sua providência; e, consequentemente, serão
independentes. No entanto, a Escritura distingue todas as coisas em
independentes e dependentes, quando ensina que todas as coisas que estão fora
de Deus são de Deus (Rm 11.36). Objeção: Algumas coisas são excluídas,
as que Deus quis. Resposta: 1. Nada. Pois isso destrói a distinção entre
criatura e Criador, da qual toda a existência depende de Deus. 2. Os futuros
contingentes são aqueles que ocorrem raramente, igualmente ou na maioria das
vezes, não há outros graus de contingências. A todos esses graus podem ser
reduzidas todas as coisas que estão fora de Deus. Se algumas coisas são
excluídas da providência de Deus, todas devem ser excluídas. Pois nada é tão
firme que não possa ser de outra forma. O curso do Sol é certíssimo, e ainda
assim, por ordem de Deus, pode parar ou retroceder; (5) Nada é mais contingente
que a vontade humana, e ainda assim está sob a providência de Deus (Pv 21.1). Nada
é mais contingente que as ações naturais do homem, levantar-se, sentar-se,
falar, pensar, e ainda veja o que o salmista diz sobre isso: “Sabes quando
me assento e quando me levanto; de longe penetras os meus pensamentos.
Esquadrinhas o meu andar e o meu deitar e conheces todos os meus caminhos.
Ainda a palavra me não chegou à língua, e tu, SENHOR, já a conheces toda” (Sl
139.2-4).
Objeção 1: As contingências de nenhum modo existem. Portanto, Deus não pode conhecê-las. Resposta: 1. Não existem em ato, mas em potência. 2. Existem, porque Deus as conhece; Objeção 2: Dos futuros contingentes, a verdade não é determinada. Resposta: Pela razão do intelecto humano, não do divino. Objeção 3: Se Deus conhece as contingências, elas acontecem porque Deus as conhece, a ciência, evidentemente, prática ou de visão, então a liberdade da vontade humana será abolida, e todos os meios serão aplicados em vão. Resposta: Nenhuma consequência. Pois a liberdade pode coexistir com a necessidade, como será demonstrado abaixo. Objeção 4: trata de eludir os locais das Escrituras que reforçam nossa tese.
Sobre
o trecho de Isaías 41:23, responde Socino: é verdade que Deus sabe o que vai acontecer: mas
não as contingências, que não podem ocorrer. Respondo: Isso é falso,
o que se demonstra. 1. Pela razão filosófica. Porque todas as coisas que estão
fora de Deus são contingentes, e poderiam não ocorrer. Logo, Deus nada saberia.
2. Pela razão teológica. Porque todas as coisas que estão fora de Deus são
mutáveis, tanto que, o que consideramos eterno, é mutável, como se vê em
Hebreus 1. Onde o Espírito Santo compara o Céu e a Terra com a natureza de
Deus, e diz que aqueles passarão.
Sobre
o trecho de Hebreus 4:12, diz Socino: não se trata ali da presciência de futuros
contingentes, mas apenas se indica que Deus conhece os recessos íntimos do
coração humano. Respondo: No entanto, essa ciência também implica
que Deus conhece as contingências. Demonstro isso: 1. Deus conhece de tal forma
que prediz as coisas, e a profecia depende disso. Pois predizer o que é certo,
como predizer que o inverno sucederá o outono, o dia sucederá a noite etc.,
seria tolice; 2. Entende-se aqui uma ciência tal como descrita no Salmo
139:2-4, na qual Deus conhece todos os atos voluntários do homem, e, portanto,
tudo o que o homem faz de forma livre.
Sobre
o trecho de Atos 15:18, "Conhecidas são de Deus desde a eternidade todas as suas obras",
Socino exclama: 1. Conhecer ali significa decretar; 2. Na Vulgata não está
"desde a eternidade", mas "desde o século". 3. Deus conhece
todas as suas obras, mas não todas as contingências. Resposta ao
primeiro ponto: Quem jamais ouviu dizer que "conhecer" e
"decretar" são termos intercambiáveis? Além disso, com essa própria
explicação, ele contradiz o que ensina em outros lugares. O trecho citado trata
da vocação eficaz dos gentios, que foi realmente livre e contingente, tanto
pela perspectiva de quem chama quanto dos chamados, e ainda assim afirma que
isso foi presciência de Deus, ou seja, foi decretado. Resposta ao segundo
ponto: 1. Diga-nos algum momento no tempo em que Deus soube disso pela
primeira vez. Se ele disser que foi em algum momento do tempo, isso contradiz a
natureza de Deus, pois implicaria uma mudança em Deus, como se ele soubesse
algo em um momento que não sabia antes. 2. É absurdo apelar para a versão
Vulgata, que ele mesmo frequentemente rejeita como cheia de erros e falhas. Resposta
ao terceiro ponto: É habitual ao Espírito Santo dizer de forma genérica o
que ele diz também de forma específica e particular, sem que o particular
retire algo do geral. Por exemplo, em João 1:3 e Romanos 11:36, diz-se que
todas as coisas foram feitas por Deus. No entanto, especificamente em Hebreus
1:10, diz-se que ele fundou o céu e a terra. Assim, em geral, Deus é chamado de
onisciente, e em particular é dito que ele conhece isto ou aquilo, como em
Gênesis 18:19 e Deuteronômio 3:21. Seria insensato inferir com Socino: "Deus
sabia isto; portanto, não sabe mais nada." Assim também, "Deus
conhece todas as suas obras; portanto, não conhece mais nada." E essa
falácia é refutada até mesmo pelas palavras de Pedro em João 21:17, que depois
de dizer: "Senhor, tu sabes que te amo", acrescenta em geral:
"Senhor, tu sabes todas as coisas".
Sobre
Gênesis 18:19,
Socino comenta: "Os atos, diz ele, são de dois tipos: bons e maus. Deus
é autor de alguns atos bons, mesmo daqueles realizados por criaturas racionais,
embora sejam necessários". Resposta: 1. Ele se contradiz, pois
anteriormente afirmou que a liberdade não pode coexistir com a necessidade, e
agora afirma o contrário; 2. Se ele concede que o homem pode realizar alguns
atos livremente, mesmo que esses atos sejam necessários, por que não todos? 3. Nossos
atos voluntários são inteiramente atribuídos a Deus. Pois agimos sendo movidos
por Deus, corremos sendo conduzidos por Deus, como em Jeremias 18:6. Que os
atos voluntários sejam inteiramente atribuídos a Deus fica claro também pelo
fato de que todas as causas desses atos provêm de Deus; por exemplo, a
capacidade de agir, conforme 2 Coríntios 3:5, e a vontade de agir, conforme
Filipenses 2:13.
Sobre
Deuteronômio 3:21,
Socino argumenta: Deus está falando de Israel e afirma ter conhecido, ou
seja, ter percebido a maldade deles, e o que fariam no futuro, como se Deus
tivesse raciocinado dessa maneira: se, com Moisés presente, começaram a
desviar-se, o que não fariam se Moisés fosse removido? Assim, segundo ele,
Deus poderia ter seguido facilmente uma conjectura para prever o que os
israelitas fariam no futuro. Resposta: 1. Assim, Deus deveria ter dito:
"Eu deduzo, penso, suspeito"; pois aquele que deduz algo o faz
com base em uma opinião. Porém, tal coisa não se aplica a Deus; 2. Deus não
teria nenhuma base para tal dedução; pois tal dedução é falha se a maldade
presente não implica a maldade futura. Pode ocorrer que alguém que é mau hoje,
seja bom amanhã, como demonstrado no caso do ladrão na cruz e de Paulo
perseguindo a Igreja.
Sobre
1 Samuel 13:13,
de onde os nossos argumentam: Deus previu o pecado de Saul e, por isso,
escolheu constituir um rei da tribo de Judá. Logo, Deus conhece o contingente.
Responde Socino: Poderia ter ocorrido que a linhagem de Saul falhasse, e
assim o reino poderia ser transferido para Judá. No entanto, isso não é uma
previsão, mas uma simples possibilidade. Pois, se pudesse, refuta-se; e se não
pudesse, refuta-se igualmente. A teologia não é uma disciplina conjectural, mas
tem princípios certos; e, quando pode, sempre deve ser vinculada, devendo ser
clara e consistente.
Sobre
o trecho em Mateus 26:43, de onde os nossos argumentam: A predição feita a Pedro era
contingente sobre o futuro. Logo, Deus conhece o futuro. Responde Socino: Pedro,
por sua temeridade, mereceu que ele caísse e que a graça divina o abandonasse;
portanto, quando a ocasião foi apresentada pela negação da graça, o Senhor
previu isso. Resposta: 1. É verdade que, negada a graça de Deus, o
homem necessariamente cairá no pecado; mas este próprio ponto é onde o herege
subverte seus princípios: a saber, que os pecados não podem ser punidos pelos
pecados; e que a liberdade não pode coexistir com a necessidade, uma vez que
essa negação foi algo meramente contingente e voluntário. Embora tenha sido uma
ação mista, composta por elementos voluntários e necessários, não provém de
coação. Pois, de dois males, escolhe-se o menor. Assim, Pedro julgava que seria
menos prejudicial negar a Cristo do que perder a vida; 2. Questiona-se como
Deus conheceu não apenas a negação em geral, mas também em particular, até o
canto do galo. Se disser que sabia pela vontade de Pedro, respondo que ainda
não havia tal vontade de negação em Pedro, mas exatamente o contrário.
Apocalipse
13:8, onde se diz:
"O Cordeiro foi imolado antes da fundação do mundo. Os nossos apresentam,
para provar a ciência de Deus sobre as contingências futuras dizendo: Se foi
decretado desde a eternidade que Cristo viria, então o pecado de Adão e,
consequentemente, os nossos pecados, foram pré-conhecidos por Deus. Assim, o
que é verdadeiro no passado é também verdadeiro no futuro. A consequência é
clara. Pois, onde não há doença, não é necessário remédio. Por isso, também o
Espírito Santo diz que Cristo veio exclusivamente para dar Sua vida pelas
ovelhas, como está em Mateus 20:28. Este argumento parece ser grave e insolúvel
para Socino. Por isso, ele sustenta que Cristo teria nascido mesmo que nenhum
pecado tivesse ocorrido, o que está em contrariedade com a palavra de Deus. Para
lidar com tais questões, Socino formulou estas regras.
I. Se Deus prediz que as boas ou más
ações ocorrerão, isso pode ser feito com base em probabilidades. No entanto, 1. Se a previsão é
feita com base em probabilidades, então o que pode ocorrer pode também não
ocorrer, e assim Deus pode falhar. Isso é absurdo, e a previsão de Deus não
seria mais certa do que a dos astrólogos, que também fazem previsões com base
em probabilidades. 2. Isso contradiz a certeza da Ciência de Deus. Deus mesmo,
em Deuteronômio 18:22, estabelece a diferença entre um verdadeiro e um falso
profeta: o que o verdadeiro profeta diz em nome de Deus deve acontecer,
enquanto o que o falso profeta diz não acontece.
II. A previsão não pode ser apenas
uma ocasião para fazer o bem ou o mal, nem uma simples advertência. Resposta: 1. A advertência difere
muito da previsão; a previsão às vezes trata de coisas para as quais não há
advertências. 2. Aqueles alertas que parecem ser previsões são, na verdade,
ditos de forma a distinguir-se dos mandamentos. Portanto, não devem ser
confundidos.
III. Se a previsão se refere a uma
ação má, então a ação é decretada, não a causa. Resposta: 1. Se Deus decretou a ação e não a
causa, da qual a ação depende, então o decreto da ação seria em vão. 2.
Presupõe que Deus não pune os pecados com outros pecados, o que é falso, como
está claro em Isaías 6:10, Êxodo 7:6, 2 Coríntios 3:14-15, Romanos 1:24, 2
Tessalonicenses 2:11 e 2 Samuel 12:11. Para o complemento, veja 2 Samuel 16:22.
Objeção 5: Deus não pode saber infalivelmente aquilo que
ainda não existe. Pois, algo é conhecido porque existe. No entanto, o ser
humano e sua vontade não são eternos. Portanto, Deus não poderia saber as
cogitações humanas e similares. Ele deve conhecê-las de outra forma. Se Deus
prevê as coisas a partir de si mesmo, então Ele prevê todos os pecados e,
portanto, é o autor deles. Resposta: 1. Deus conhece, de fato, o futuro,
mas não porque as coisas são futuras a partir de si mesmo, mas porque Ele as
decretou. 2. Pressupõe que Deus conhece as coisas porque elas existem, embora o
contrário seja verdadeiro, como mostramos em outro lugar. 3. A ideia de que
Deus se torna o autor do mal por causa disso é totalmente infundada. Assim como
a vontade divina, a presciência divina é ou permissiva, permitindo o pecado,
pois de outra forma não poderia ocorrer; ou eficaz, não querendo o pecado.
Portanto, Deus não é o autor do mal. Ele seria o autor apenas se quisesse
efetivamente o mal.
Objeção 6: Em Isaías 5:2, 4, 7, afirma-se que Deus não
previu o que aconteceria, pois não esperava. Resposta: Estas passagens
devem ser interpretadas por metáfora antropopática, ou seja, de maneira
imprópria. Se fossem interpretadas literalmente, Deus seria infeliz, como se
fosse frustrado em seus planos. Contudo, Deus é o sumo bem, e a frustração não
pode ocorrer de forma alguma. O que se diz nestes textos provém de uma analogia
com os seres humanos, que, quando fazem tudo o que está ao seu alcance para
alcançar um objetivo e ainda assim o resultado não ocorre, costumam afirmar que
o que poderiam fazer foi feito. Esta expressão é encontrada na Escritura, como
em Atos 20:27 e Lucas 20, na parábola do proprietário da vinha. Portanto,
deve-se entender que ali se refere apenas aos meios externos, isto é, o fato de
que Deus enviou os profetas e Seu Filho.
II. Deus, em um
único e indivisível ato, conhece todas as coisas, não disperso em muitas
partes, mas reunido em si mesmo, e, no entanto, de forma distinta e especial,
sem confusão ou generalidade.
I. Porque Deus está presente a todos; portanto,
conhece todas as coisas em um único ato; a razão da consequência é a seguinte: Quem
está presente a algo, o conhece. Mas Deus está presente a todas as coisas:
Portanto, Ele conhece todas as coisas. Isso é afirmado claramente no Salmo
139:7-11.
II. Se Deus não conhece todas as coisas em um
único ato, então seria necessário que Ele não pudesse conhecer simultaneamente
todas as orações.
Mas se isso fosse verdade, Deus não existiria. A razão da consequência é a
seguinte: Porque em todo o mundo, em diversos lugares, ao mesmo tempo, o nome
de Deus é invocado por várias orações. Se alguém não conhece simultaneamente
todas as orações, então não é Deus, como se pode inferir das zombarias de
Elias, que ridicularizou os profetas de Baal em 1 Reis 18:27. Mas talvez nossos
adversários não concedam facilmente que Deus conhece o que ocorre
simultaneamente, mas apenas que Ele conhece todas as coisas passadas, presentes
e futuras, simultaneamente. Resposta: Deus conhece todas as coisas, seja
o que é, seja o que foi, simultaneamente; e isso é provado pelo seguinte
argumento: Deus, desde a eternidade, conhece todas as coisas simultaneamente;
se Ele conhece todas as coisas simultaneamente, então conhece em um único ato
de entendimento. Que Ele conhece simultaneamente, está claro a partir dos
seguintes pontos: Se não conhece todas as coisas simultaneamente, isso se deve
ao fato de que ou não pode compreender todas as coisas ao mesmo tempo ou não
quer. A primeira opção não é válida, pois o intelecto de Deus é infinito; isso
é demonstrado ainda mais pelo fato de que Deus conhece a Si mesmo
perfeitamente: Deus é infinito; portanto, o intelecto de Deus, com o qual Deus
conhece a Si mesmo infinitamente, é infinito. A segunda opção, que é a de que
Ele não quer, não é válida; a razão é que Deus conhece o passado: pois como
poderia Moisés ter revelado o que foi feito desde o início do mundo, se Deus
não conhecesse tais coisas? Deus conhece o futuro, como está em Isaías 41:22-23.
Ele conhece o presente, porque está presente a todas as coisas, como
demonstrado no Salmo 139:7-11. Portanto, como Deus conhece todas as coisas e
pode conhecê-las simultaneamente, é necessário que Ele conheça todas as coisas
em um único ato de entendimento.
III. Adicione-se ainda que, se Deus não
conhecesse todas as coisas em um único ato de entendimento, não poderia ser
considerado onisciente. A razão para isso é que, se Deus entendesse algo em um momento e, ao
mesmo tempo, não entendesse outra coisa, ou se, enquanto entende uma coisa, já
não lembrasse mais da outra, isso seria contrário à onisciência de Deus. Se
tais afirmações fossem verdadeiras, Deus não poderia ser considerado onisciente
de nenhuma forma. No entanto, Deus é de fato onisciente, como é claramente
evidenciado, por exemplo, em Hebreus 4:13: “Tudo está nu e patente aos olhos
d'Ele, com quem temos de tratar.”
IV. Porque o entendimento de Deus é o próprio
Ser e Essência d'Ele. O ato de entender é Deus mesmo. Portanto, o que se diz de Deus
também deve ser dito do ato de entender, como canta o poeta divino:
“Com um único ato da mente Ele vê
O que é, o que foi, e o que virá.”
Agora vejamos a objeção: “Portanto, se Deus
entende todas as coisas em um único ato, então a afirmação e a negação, assim
como a verdade e a falsidade, devem ser consideradas como idênticas.” Isto
é absurdo; portanto, a conclusão a partir disso também é absurda.
Respondemos: Se seguirmos a linha de raciocínio proposta
pelos adversários, então o ato de entender em Deus, que é um único e
indivisível ato, seria a causa exemplar das coisas, ou, para ser mais claro, se
o ato de entender fosse o mesmo que as coisas entendidas por meio da
representação, isso seria extremamente inadequado. A razão para isso é que em
Deus não pode haver causas para a ciência e o entendimento que sejam externas
às coisas criadas, nem pode o entendimento divino se tornar o que é criado, por
meio da representação. Ambos os conceitos estão em desacordo com a
imutabilidade de Deus, como também é atestado por passagens das Escrituras,
como Tiago 1:17.
Além disso, respondemos que isso seria
verdadeiro se Deus não entendesse distintamente as coisas que conhece em um
único ato de entendimento. No entanto, Deus conhece todas as coisas
distintamente, mesmo que seja em um único ato, o que é claramente demonstrado
pelos atos de Deus em relação a tudo que faz, tanto no natural quanto no
sobrenatural. No âmbito natural, Deus é o autor de todas as coisas, conforme
Hebreus 4:24; e no sobrenatural, Ele as produz, conforme 1 Coríntios 12:11.
Portanto, se Deus faz todas essas coisas, e faz isso de uma vez, então
certamente Ele cuida de todas as coisas simultaneamente de uma forma que cada
uma é distinta da outra e cada uma depende da outra. Ele vê e entende a
distinção entre uma coisa e outra, como entre uma para a qual Ele decreta dar
dons e outra para a qual não decreta dar.
A resposta é similar à analogia da visão, na
qual vemos diferentes cores, como branquidão e negritude, em um único ato
visual. Alguém poderia dizer: "Então, a branquidão deve estar presente na
negritude," e vice-versa. Isso seria absurdamente errado, pois assim como
vemos distintamente a branquidão e a negritude, também Deus vê distintamente as
coisas em Seu entendimento.
Os socinianos e seus seguidores, como os
arminianos, desenvolveram uma terceira forma de ciência divina, chamada ciência
condicionada, que eles definem como a previsão de Deus sobre o que ocorrerá sob
certas condições, mesmo que não tenha sido decretado por Ele. Por exemplo, o
que os homens ou os anjos fariam se estivessem colocados em determinadas
circunstâncias ou em uma ordem específica das coisas. No entanto, essa forma de
ciência condicional foi inventada para evitar a necessidade de referir toda a
previsão do futuro à ciência da visão, o que, de fato, contrariaria as opiniões
deles. Pois, com esse entendimento, eles teriam que admitir que a presciência
de Deus é baseada no decreto, e o que Deus prevê para o futuro é previsto
porque Ele decretou.
Seria, portanto, absurdo dizer que Deus, com
base na presciência ou na perseverança dela, escolhe para a vida eterna este ou
aquele. Porque Ele preveria fé em um e não em outro, se fosse questionado pelos
adversários, teria que responder que é porque Ele decidiu dar fé a um e não a
outro. Se a questão fosse aprofundada ainda mais, perguntando por que decidiu
dar fé a um e não a outro, teriam que dizer que é porque assim lhes pareceu
bem. Assim, todas essas distinções na vontade divina, que afirmam que Deus
deseja que todos e cada um sejam salvos, seriam subvertidas; se Deus quisesse
salvar todos e cada um, teria decretado dar fé e perseverança a todos e cada
um. Contra nossa discussão atual, estabelecemos a seguinte argumentação:
Primeiro, deduzimos o argumento da
independência entre a causa primeira e o efeito, ou seja, entre o Criador e as
criaturas. É impossível que qualquer efeito seja, ou seja, compreendido como
futuro em algum caso, sem depender da sua causa eficiente. Esta é a proposição
fundamental da Filosofia, conforme descrito no livro De Causis, e a base
sobre a qual se estrutura toda a escolástica, que considera os entes criados
apenas como emanando da causa primeira, da qual dependem para existir e operar,
assim como os raios do Sol. No entanto, a ciência intermediária, que propõe a
determinação da vontade livre como seu objeto, alegadamente não depende de
nenhuma causa superior. Portanto, isso implicaria em efeitos sem causa,
criaturas sem Criador, e, consequentemente, essa ciência deve ser completamente
rejeitada. Este argumento é enfaticamente apresentado por Ripa, na primeira
parte da obra de Aquino, questão 4, capítulo 3, distinção 4. Pois,
segundo ele, seria estabelecido um tal ordenamento, onde, se um homem está
destinado a agir, então Deus age, e, se a causa secundária age, a causa
primária também age, e não o contrário; o que Agostinho também condenava, na
obra De Praedestinatione Sancti, capítulo 13, e a verdadeira filosofia,
e a teologia sã. Além disso, não é apenas a natureza que é questionada, mas
também os próprios nomes de Deus, do homem, da causa primeira e da causa
secundária, que são tão incompatíveis que não há nada mais contrário. Aqueles
com quem discutimos só ousam afirmar isso com grande hesitação e sob certas
reservas.
Segundo
argumento: Esta
ciência impõe restrições à vontade e à providência divina. Pois, se a vontade
humana se determina livremente antes do decreto divino, então nada pode ser
disposto pela potência e providência divina, a não ser que se espere e se tenha
previamente a aprovação da vontade criada, com a qual concorre como causa
parcial na produção do efeito. Além disso, aquilo que Deus conhece antes da sua
própria predestinação, deve ser conhecido por Ele através da sua ciência
natural. Portanto, não pode haver outra maneira de se relacionar com o decreto
subsequente, o que parece impor limites à causa primeira.
Terceiro
argumento: Este
argumento deriva da distinção entre a ciência divina e a ciência da
inteligência simples e da visão, cujos objetos não são o Ser ou o Ser, entre os
quais não pode haver um meio. Assim, não resta à ciência intermediária um
objeto intermediário que defina a ciência: os adversários são forçados a supor
o Ser como meio entre os contraditórios, mas isso é em vão. O Ser, se for
condicionado, é algo em si mesmo ou nada. Se for a primeira opção, está
compreendido sob a ciência da visão; se for a segunda opção, mas apenas
possível pela potência do Criador, coincide com o objeto da inteligência
simples. Portanto, qual é a necessidade de introduzir esta nova e neutra
ciência em Deus?
Quarto
argumento: É
baseado na comparação entre o condicionado e o absoluto. O decreto condicionado
de Deus se relaciona com o futuro condicionado da mesma forma que o decreto
absoluto se relaciona com o futuro absoluto. Mas isso implica uma contradição
(como admitido pelos jesuítas), pois algo não pode ser futuro absolutamente, a
não ser pelo decreto de Deus que determina que seja absolutamente futuro, como
mostra Agostinho em "Enchiridion" a Laurentino, capítulo 95.
Portanto, também implica uma contradição que algo seja futuro condicionado a
menos que preceda um decreto condicionado, o que anula completamente a ciência
intermediária (que se supõe preceder todo decreto).
Quinto
argumento: Se Deus previsse algo que não decretou, então
Ele saberia a coisa porque ela seria futura; mas a coisa não seria futura
porque Deus a previu e decretou. Isso é claramente absurdo. Pois, dessa forma,
a coisa fora de Deus seria a medida do entendimento divino, e não o
entendimento de Deus seria a medida das coisas futuras fora de Deus. Assim, o
conhecimento de Deus dependeria das coisas externas, e, portanto, Deus não
seria Deus. Pois o conhecimento em Deus é o próprio Deus. Além disso, o
entendimento divino se conformaria às coisas fora de si, conferindo, assim, uma
potência passiva a Deus; em suma, Deus não seria Deus, mas uma criatura, e a
criatura não seria uma criatura, mas Deus.
Sexto
argumento: Esta ciência intermediária não resolve as
dificuldades de conciliar graça e livre arbítrio, para o qual foi
principalmente inventada, mas ao contrário, as complica; portanto, deve ser
rejeitada como inútil. O antecedente é formulado da seguinte forma: se o ato do
livre arbítrio não é determinado pelo decreto, então ele deve ser determinado
por alguma outra causa externa, ou não. Se for o primeiro caso, então deve ser
por constelações, pela complexão individual, por persuasão moral, ou de algum
outro modo. Mas, qualquer que seja a maneira, não surgiria menor dificuldade em
entender por que isso seria mais favorável a Jacó do que a Esaú. Se a vontade
aqui consentisse naturalmente, então não poderia agir de outro modo: portanto,
não poderia discordar; assim, sob essas circunstâncias, não seria livre. E
assim, os adversários caíram nas armadilhas que nos prepararam.
Sétimo
argumento: Não há ciência intermediária, pois não há
causa para ela, que eles propõem, como o decreto condicional de Deus,
dependente das criaturas; por exemplo, prever que Caim matará Abel em tal
lugar, e assim decretar que ele morrerá ou será morto lá. Quem conferiu tais
decretos ao homem?
Oitavo
argumento: Não há objeto para esta ciência; portanto, ela
mesma não existe. Pois a ciência pressupõe o possível. Assim, o Filósofo
considera o possível e a ciência entre os relativos segundo o dizer. De fato,
todos os atos contingentes e livres estão sujeitos à providência de Deus, e
nada pode existir, preexistir ou ser futuro, a menos que dependa de Deus, tanto
no futuro quanto no presente, isto é, a menos que esteja providenciado e
preestabelecido. Portanto, na ciência intermediária não há isso, pois seu
objeto é estabelecido como não dependendo do decreto de Deus.
Nono
argumento: Deve-se rejeitar a ciência cujo objeto é tal
que, uma vez estabelecido, o objeto se reduza ao arbítrio criado, como se fosse
o determinante primário. Pois somente Deus é o determinante dos primários. No
entanto, se o decreto de Deus é o objeto posterior da ciência intermediária,
esse objeto acaba sendo resolvido no arbítrio criado: pois não pode ser
resolvido no decreto de Deus, como no determinante primário, já que o decreto é
posterior. Objeção: Pode Deus impedir os atos livres? Respondemos:
Isso é em vão. Primeiro, se eu quiser isso, não aquilo, antes da vontade de
Deus e da ciência intermediária, então Deus não pode impedir esses atos livres:
pois o que já é, e o que Deus infalivelmente prevê que será futuro,
infalivelmente será futuro. Segundo, se Deus quiser restringir a vontade
indiferente (pois os adversários afirmam que ela repugna perpetuamente à
vontade, para que se determine a um), é necessário que opere o que desejou.
Portanto, é necessário que Deus ajuste sua vontade e o concurso com o movimento
da liberdade criada, e Deus, vencido pelo destino, não pode reconciliar-se e
querer o que a vontade criada, como determinante primário, quis.
Décimo
argumento: O objeto de toda ciência infalível deve ser
necessário. No entanto, as contingências futuras, antes do decreto de Deus, não
são necessárias; logo, não há objeto para esta ciência. A maior é certa: pois a
ciência é necessária em virtude de um objeto necessário. A ciência, afinal, não
é outra coisa senão a apreensão do objeto. Por isso, todos os metafísicos
afirmam: não é possível haver certeza da mente, ou subjetiva, sem toda certeza
do ente, ou objetiva. A menor é provada: Antes do decreto de Deus e por si
mesma, visões de Tiro podem não crer e arrepender-se tanto quanto crer e
arrepender-se; assim, também, David poderia não ter sido entregue nas mãos de
Saul tanto quanto poderia ser entregue. Pois essa é a natureza da liberdade dos
adversários, que, tendo todos os requisitos para agir, pode agir ou não agir.
Além disso, os adversários respondem que Deus,
por sua infinita ciência, prevê não só o que a vontade humana pode fazer, mas
também o que ela fará. No entanto, a questão permanece: de que forma Deus vê
essa determinação? Pois ele vê a própria determinação em si mesmo como
presente, e essa presença não é real em si (pois as coisas eternas não existem
realmente em Deus), nem é real em sua causa, isto é, no decreto de Deus; pois
eles desejam que o objeto seja anterior ao decreto, e ainda assim não podem dar
outra causa além do decreto.
Décimo
primeiro argumento: A ciência condicional não estabelece nada em
si mesma, mas apenas a conexão ou consequência entre o antecedente e o
consequente; assim, se ambas as partes forem falsas, pode haver uma conexão
verdadeira; e se ambas as partes forem verdadeiras, pode haver uma conexão
falsa. Portanto, a ciência condicional não dá uma certeza sobre futuros. Este é
um ponto aceito pelos lógicos e não contestado até agora por ninguém. Becanus
responde em "De Scientia Dei", cap. 10, q. 6, que
embora tais proposições sejam hipotéticas em sua forma, em seu sentido elas
equivalem a proposições categóricas, e ainda assim, há uma diferença entre
ambas. Assim, na teologia, a ciência condicional é proposta, a qual não é nem
categórica nem hipotética; o que é duvidoso se alguém, além dos jesuítas, faria
uma afirmação tão ridícula.
Décimo
segundo argumento: Se a presciência dos futuros fosse
independente do decreto, as razões e ideias eternas seriam priorizadas na
criatura em relação a Deus, e a criatura não dependeria de Deus como exemplo e
ideia, mas Deus dependeria das criaturas como exemplo, modelo e medida superior
e anterior; o que é extremamente absurdo. Pois somente Deus é a Ideia e contém
em si as razões de todas as coisas.
Décimo
terceiro: O
argumento baseia-se nos absurdos que acompanham essa ciência.
Primeiramente, a ideia é a seguinte: Se Deus tivesse alguma ciência
desse tipo, Ele saberia antecipadamente as contingências futuras. A razão é a
seguinte: a ciência mencionada pressupõe que aquilo que Deus prevê, como Pedro
acreditará e Judas não acreditará, são causas morais e meramente contingentes
da fé, que atuam na vontade humana de tal forma que ela possui o poder de
acreditar ou não acreditar. Mas se as coisas são assim, como Deus pode prever
que, dado que uma causa contingente se inclina para acreditar, Judas não o
fará? Dizer-se-á que Deus é onisciente. Admito isso, mas, entretanto, se tal
ciência divina se baseia em coisas futuras e não nas coisas futuras porque a
ciência o é, então a ciência de Deus se conformará com as coisas e não as
coisas com a ciência; isto é, a ciência de Deus será verdadeira quando
compreender as coisas como elas são. Pois uma ciência que deve se conformar com
as coisas, como a ciência da criatura racional, e percebe algo que não está na
coisa, é falsa. Se, portanto, Deus visse com essa ciência antes que a vontade
se inclinasse para este ou aquele lado, Ele veria certo ou não certo, dado
essas causas contingentes, e assim veria algo que na realidade não existe. Pois
a vontade, antes de se inclinar para este ou aquele lado, não tem nada de certo
em si mesma. Se Deus a conhecesse como se tivesse algo certo, Ele a conheceria
falsamente. Portanto, Deus terá que conhecer, segundo esta opinião, o que a
vontade fará ou não fará, quando tiver como proposto o que fará ou não. No
entanto, nem mesmo o que é proposto, que está em si mesma, poderá ser conhecido
pela vontade, já que a vontade, que propõe, costuma mudar frequentemente e,
portanto, não pode conhecer se a vontade realizará tais ou tais atos, ou se
persistirá nesses atos, isto é, se não acreditar, não pode saber se acreditará
ou não acreditará, até que o homem esteja morto, ou se acreditar, não saberá se
persistirá ou não, até que deixe de estar vivo.
O segundo absurdo é o seguinte: que essa ciência condicional
pressupõe que a base da eleição e reprovação do decreto de Deus seja a vontade
do homem. Pois, se eu perguntasse aos adversários, qual é a razão de Deus ter
escolhido alguns para a vida e outros não, responderiam que Ele previu que
alguns acreditariam e outros não. Mas se eu perguntasse, qual é a razão, visto
que Ele concedeu a ambos a mesma graça, por que um crê e o outro não? A
resposta seria que um quis e o outro não quis. No entanto, o decreto de Deus,
que é imutável, não pode se basear nisso, pois toda criatura é mutável em si
mesma, especialmente a vontade humana. Se fosse baseado nisso, deveria ser tal
como aquele no qual é baseado, de modo que, sendo mutável, o decreto de Deus
também seria mutável; e, voltando-se para isso, o Espírito Santo, em Romanos
9:11-12, diz: "Ainda não tinham nascido, nem tinham feito bem ou mal,
para que o propósito de Deus, segundo a eleição, permanecesse firme, não das
obras, mas do que chama." Assim, a eleição é maior do que a
reprovação.
O terceiro absurdo é o seguinte: que essa ciência condicional
pressupõe que Deus, no caso do homem não regenerado, faça nada mais do que
propor Sua palavra, adverti-lo e dar-lhe a fé, o que é falso segundo as
Escrituras, que ensinam que há duas obras de Deus no homem não regenerado. Primeiro,
que Ele o advirta externamente por Sua palavra. Segundo que ilumine, repare e
restaure sua vontade, o que é principal e sem o qual a primeira é completamente
ineficaz, como está claro em Deuteronômio 29:4: "Até agora o Senhor não
vos deu coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir."
Certamente, a palavra de Deus é perpetuamente anunciada aos seus ouvidos, mas
sem frutos; pois, como diz o Espírito Santo, Ele não lhes deu coração para
entender. Temos um testemunho claríssimo disso nos judeus, em 2 Coríntios 3:14:
"Até hoje, quando leem o Velho Testamento, o mesmo véu está sobre o
coração deles; mas, quando se converterem ao Senhor, o véu será tirado."
E em Romanos 11:25: "Não quero, irmãos, que ignoreis este mistério,
para que não sejais sábios a vossos próprios olhos: que a dureza de coração
veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios tenha entrado; e
assim todo Israel será salvo, como está escrito: 'Virão de Sião o
Redentor, e afastará a impiedade de Jacó.'" Isso ensina que eles se
ocupam sem frutos na leitura do Velho Testamento, porque têm o véu sobre o
coração; e isso porque se endureceram. Mas como o Senhor tira isso, está
ensinado em Deuteronômio 30:6 e Ezequiel 36:26: "Eu tirarei de vós o
coração de pedra..."
Se de todos, por que Paulo afirma,
em 1 Coríntios 1:23, que "pregamos Cristo crucificado", sendo
escândalo para os judeus e loucura para os gregos?
Você dirá: Não todos compartilham dessa
opinião, de que a ajuda antecedente se limita a uma sugestão externa; mas há
alguns que acreditam que Deus ilumina os homens com o conhecimento de Cristo e
incendeia seus afetos para o bem sobrenatural por meio de um impulso físico e
irresistível. Eu respondo: Pode-se então questionar se todos e cada um
daqueles que ouvem a palavra de Deus têm o entendimento iluminado pelo
conhecimento de Cristo e seus afetos inflamados para o bem espiritual, ou se
isso é verdade apenas para alguns?
Nós pregamos Cristo crucificado,
escândalo para os judeus e loucura para os gregos. Como, então, isso pode ser
compatível com a iluminação da mente e o acendimento dos afetos em direção a
Cristo? Pois onde há acendimento dos afetos, há amor e desejo; e onde há amor,
não há aversão àquele a quem se ama. Se não todos que ouvem a palavra de Deus
são contemplados com isso, deve-se perguntar se há alguma razão para que isso
não ocorra; ou talvez isso se deva ao fato de que alguns não utilizam
corretamente os dons que consistem no conhecimento da bondade de Deus e nas
remanescentes leis que ainda persistem na natureza corrompida? Ou será que é
porque assim parece bem a Deus? A primeira hipótese não é possível por duas
razões: primeiro, porque claramente o Espírito Santo demonstrou na pessoa de
Paulo que ele, se algum, fez bom uso dos dons naturais, mas não estava disposto
aos sobrenaturais: Filipenses 3:4: "Embora eu tenha também confiança na
carne, se qualquer outro pensa que pode ter confiança na carne, eu ainda mais:
circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu
de hebreus, segundo a lei, fariseu. Quanto ao zelo, perseguidor da igreja;
quanto à justiça que há na lei, irrepreensível." A menos que alguém
pense que aquele que odiava Cristo e foi o mais feroz perseguidor estava
corretamente disposto aos sobrenaturais, o que seria absurdo. Pois não todos
que utilizam corretamente os naturais são dignos dessa graça. Por exemplo, aquele
que não usou corretamente, de quem fala Marcos 10, que diz ter guardado a lei
desde a sua juventude? E aquele outro, de quem Marcos 12 fala, a quem Cristo
disse que não estava longe do reino de Deus? No entanto, Deus não dignificou
nem a este nem a aquele com a graça para iluminar suas mentes e inflamar seus
afetos em relação à Sua palavra. Portanto, deve-se concluir que isso ocorre
porque assim parece bem a Deus.
Agora, se Deus age por puro
beneplácito, pode-se dizer que Deus deseja a salvação de todos e de cada um, e
que, se isso, sem o qual a salvação não pode ser obtida, não concede, apenas por
que lhe parece bem? Em segundo lugar, pode-se questionar se essa iluminação da
mente e o acendimento dos afetos para o bem espiritual despertam fome e sede
desse bem espiritual, ou não. Não despertar fome e sede não pode ser dito, pois
não se pode entender como os afetos seriam chamados de acendidos e não amariam
ou desejariam aquilo pelo qual são acendidos. Amor e desejo são fome e sede em
si mesmos. Portanto, se desperta fome e sede, segue-se que se cumprirá o que é
dito em Mateus 5:6: "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,
porque serão fartos." Mas se todos esses serão fartos, como pode a
graça de Deus ser resistível? Se a graça foi concebida com esse fim, para
mostrar que alguns, que eram participantes da graça, podem cair eternamente, e
se todos serão fartos, então todos, sem exceção, serão salvos. E se todos serão
salvos, então é falso ou impossível que alguns deles possam cair. A razão é
esta: Se isso pudesse ocorrer, então as palavras da Escritura poderiam ser
falsas. Mas as Escrituras não podem ser falsas. Portanto, isso também não pode
ocorrer, o que a Escritura diz que não ocorrerá. Portanto, a graça que consiste
na iluminação e no acendimento dos afetos deve ser tal que tanto a vida eterna
quanto os meios para alcançá-la sejam consequentemente necessários, o que os
adversários negam claramente.
Você dirá: A partir da palavra "serão
fartos" não se pode deduzir que serão salvos. Respondo: No entanto,
Cristo ensina isso claramente em João, quando revela o que significa ser farto.
Ele diz: "Quem vem a mim nunca terá fome, e quem crê em mim nunca terá
sede." Se nunca terá fome, nunca terá sede. Portanto, será sempre
farto. E os efeitos não podem ser perpétuos a menos que a causa da qual
dependem seja perpétua. Portanto, se você permanecer perpetuamente farto, você
permanecerá perpetuamente unido a Cristo, e sempre crerá nele. Pois isso é ser
verdadeiramente farto, como dito acima. Portanto, será irrefutavelmente salvo.
Você dirá: Pode ser que algo intervém e remove
essa fartura, e assim alguém pode ser farto e ainda não salvo, porque a fartura
não permanece. Respondo: Se isso pudesse acontecer, então as palavras de
Cristo poderiam ser falsas: "Quem vem a mim, não terá fome, e quem crê
em mim, nunca terá sede." Mas essas palavras não podem ser falsas.
Portanto, quem foi uma vez farto, não deixará de ser. A razão é a seguinte:
Se os efeitos dependentes de alguma causa permanecem, a própria causa também
deve permanecer. Mas Cristo diz que o efeito da fartura permanecerá, que é
nunca ter fome e nunca ter sede. Portanto, a própria causa permanecerá.
Você dirá: Na verdade, fome e sede são apenas
amor e desejo por alguma coisa (pois são assim chamadas metaforicamente), e,
portanto, haverá fome e sede em alguns, que no entanto não são fartos nem
salvos, como, por exemplo, aqueles que recebem a palavra com alegria; eles amam
e desejam, porque o desejo vem do amor, mas alguns desses não são salvos, como
em Mateus 13; e também há aqueles, de quem Amós 8 diz que terão fome e sede e
morrerão de fome e sede. Respondo: Existem dois tipos de fome e sede na
Escritura: uma que vem de Deus e é segundo Deus, e outra que não vem de Deus
nem é segundo Deus. O segundo tipo é quando alguns bem-intencionados em relação
à palavra de Deus desejam isso, mas não por si mesmos, mas por causa dos bens
que acham que estão anexos a ela. Assim, aqueles de João 6, que buscavam ouvir
Cristo, mas por causa dos pães pelos quais seriam fartos. Os adversários não
consideram, creio eu, esse desejo como aquele que Deus excita iluminando o entendimento
e inflamando os afetos. Pois esses afetos não vêm de Deus. Outro tipo de fome e
sede é o que vem de Deus, e é novamente duplo: uma que é o efeito da graça, e a
outra da ira. A fome e a sede que são punição e infligidas como punição são
mencionadas em Amós 8. E quanto a esse tipo, creio que os adversários não
considerarão essa fome e sede, de que falamos, como punitivas, pois não são
para punição, mas para o bem e a bondade dos que são dados. Portanto, deve-se
concluir que essa fome e sede que vem de Deus são para o bem daqueles a quem
são dadas, e são efeitos da Sua graça. Essa fome e sede são dos bens
espirituais, não por causa dos bens corporais anexos, mas por causa de si
mesmos; e esse desejo estava nos apóstolos, que deixaram tudo para seguir Cristo,
conforme Mateus 19:27. E sobre isso é verdade o que está em Mateus 5: "Bem-aventurados
os que têm fome e sede de justiça."
O quarto absurdo que decorre dessa
opinião é o seguinte: ela introduz o destino estoico, o que os adversários nos acusam
continuamente. Isso é demonstrado da seguinte maneira: Primeiro, em relação aos
bens que concernem à alma; Deus prevê que Pedro ou Paulo acreditariam, se ele
aplicasse estas ou aquelas causas, as quais todas são de natureza moral.
Portanto, isso que Deus prevê que acontecerá necessariamente, ele o prevê com
uma necessidade totalmente independente. Pois essa necessidade, que Pedro
acreditará, não dependerá de Deus, porque se dependesse de Deus, ele agiria na
vontade de Pedro de forma que este necessariamente acreditasse; no entanto, ele
não faz isso, segundo a opinião dos adversários, porque acreditam que isso
destruiria a liberdade, e, portanto, que Deus não age na vontade senão
persuadindo, advertindo, ameaçando e prometendo. Você dirá: Essa necessidade
não dependeria de Deus, se Pedro pudesse acreditar, movido por uma causa moral,
mesmo sem a permissão e a concorrência de Deus. No entanto, isso não pode
acontecer sem essas. Respondo: Portanto, Deus pode prever Pedro, colocado em
tal ordem, acreditando sem sua permissão e concorrência, ou não. Se sim; então
Pedro pode acreditar sem isso. Se não; então entre essas coisas que moveriam
Pedro a acreditar, essas causas devem ser necessariamente incluídas. Ora, se
essas causas devem ser incluídas, elas serão a causa da necessidade de que
Pedro, colocado em relação a elas, acredite ou não. Se sim; então Pedro
acreditará necessariamente, e não livremente. Se não; então segue-se que essa
necessidade não depende de Deus.
Segue-se ainda outro absurdo muito
mais extremo:
um destino mais do que estoico, no qual não apenas a criatura, mas também Deus,
é inevitavelmente implicado em relação aos bens do corpo. De fato, a criatura
no tempo não pode deixar de agir desta maneira; e Deus não pode prever ou
querer outra coisa senão aquilo que de fato acontecerá. Portanto, prevalecendo
este dogma, que possui uma anterioridade tanto em relação à ciência de Deus
quanto ao decreto, todas as misérias que acometem os mortais pelo ministério de
causas contingentes, doenças contagiosas, morte inesperada por desmoronamento
de edifícios, pobreza, exílio, morte prematura e dolorosa da esposa e dos
filhos; e até mesmo machados, laços, fogueiras, forcas: certamente, nesses
casos, uma vez que precedem a vontade de Deus e essa suposta ciência, nenhuma
esperança, nenhuma consolação, nenhuma paciência pode restar em Deus. Não seria
assim que Deus falaria aos mortais? “Deve-se suportar, não lamentar, ó
homens, a sorte fatal que vos atingiu: pois esta desde a eternidade superou a
minha providência, eu não pude impedir, não pude deixar de submeter-me aos
desígnios fatais da contingência, ela lançou os dados, escreveu as tábuas das
Parcas, pronunciou a sentença adamantina, decretou uma sorte negra ou branca,
estabelecida desde a eternidade para a eternidade, até contra a minha vontade.”
E, da mesma maneira, prosperidade, nobreza, poder, saúde, numerosa prole,
abundância de todos os bens, vida longa, morte feliz e tranquila, riquezas
douradas, que ocorrem pelo auxílio e operação de causas livres e contingentes,
precedem a mesma providência. Que esperança, gratidão, submissão, ou
consciência de dever e obediência devida a Deus poderiam os homens ter? Essas
coisas aconteceram sem o conhecimento e contra a vontade de Deus. Mas agora as
objeções que costumam ser levantadas em favor desta ciência média devem ser
respondidas.
Objeção 1: é tomada do livro de 1 Samuel 23:10.
Deus previu para Davi dois futuros sob condição, que dependiam do
livre-arbítrio, e que nunca se realizariam de fato, mas apenas na hipótese. Um,
que Saul cercaria Davi em Queila, se ele não fugisse. Outro, que os habitantes
de Queila entregariam Davi a Saul, se ele não fugisse. Respondo: Deus
previu esses futuros, mas não de forma absoluta, mas futuros, se Davi não
fugisse e se protegesse; o que Deus decretou que ele faria, como meio pelo qual
afastaria Saul de Queila e impediria que os cidadãos traíssem Davi. Pois aquilo
que Deus decretou realizar por meio desses ou daqueles meios, Ele sabe que sem
esses meios não acontecerá, porque Ele conhece seus decretos imutáveis: mas,
enquanto isso, embora Ele saiba que sem esses meios, que Ele também decretou,
não realizaria essas coisas, Ele ainda sabe que elas são futuras. Pois é uma
coisa saber que algo não acontecerá sem isso ou aquilo; outra coisa é saber que
não acontecerá de forma alguma: isso implica que a coisa realmente não
acontecerá; o outro implica que não acontecerá sem isso ou aquilo. Portanto, o
argumento não infere outra coisa senão isto: Deus previu que Saul viria a
Queila, e que Davi seria traído, a menos que ele se protegesse, o que Deus
também decretou como meio pelo qual afastaria esses males de Davi; e Ele sabia
disso porque havia decretado que não afastaria esses males de outra forma,
senão por meio desse meio. Dizes: contudo, isso não impede que seja verdade a
sentença de que Deus previu que Saul e os habitantes de Queila fariam isso, a
menos que Ele impedisse.
Assim é. Mas, como dito, Deus
afirmou que isso aconteceria se Davi não utilizasse esses meios, porque Deus
decretou que não queria libertá-lo sem esses meios. Assim também se dá no caso
narrado em Atos 27, onde lemos sobre Paulo, que, por revelação divina, relatou
que ninguém pereceria no naufrágio iminente, pois essa era a vontade de Deus.
No entanto, mais tarde, ao descobrir que os marinheiros planejavam fugir, ele
disse: "Se estes não permanecerem no navio, vocês não poderão ser
salvos." Ou seja, Paulo sabia que Deus havia decretado que eles seriam
salvos; mas sabia também que isso se daria por meio de certos meios, a saber,
que os marinheiros permanecessem, pois Deus havia decretado salvá-los mediante
a permanência dos marinheiros.
Objeção 2: é retirado de Mateus 11. "Se
em Tiro e Sidom tivessem sido realizados os milagres que foram feitos em vocês,
há muito tempo elas teriam se arrependido em pano de saco e cinzas." Resposta:
Muitas vezes, a Escritura compara duas coisas impossíveis entre si, afirmando
que uma ocorreria, não porque de fato ocorrerá, mas para mostrar que, sendo
impossível essa, se uma delas devesse ocorrer, seria mais fácil essa acontecer
do que a outra, de modo a exagerar a impossibilidade desta última. Por exemplo,
em Lucas 16, lemos sobre o céu e a terra que passarão, mas as palavras de Deus
permanecerão: não que devam passar ou perecer totalmente, mas, se uma delas
devesse ocorrer, seria mais fácil isso acontecer do que as palavras de Deus
deixarem de ser verdadeiras. Da mesma forma, em Isaías 49:15, ele diz: "Pode
uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça
do filho do seu ventre? Ainda que esta viesse a se esquecer, eu, todavia, não
me esquecerei de ti." Aqui, também, ele coloca essas coisas como
impossíveis, e, no entanto, se uma delas devesse ocorrer, ele diz que seria
mais provável que a mãe perdesse sua natureza do que ele se esquecesse dos
seus; pois ele diz: "Ainda que esta viesse a se esquecer, eu, todavia,
não me esquecerei de ti." Veja também expressão semelhante em Ezequiel
3:16-17. Assim, Cristo aqui compara duas coisas impossíveis entre si, que os
habitantes de Cafarnaum creiam e que os habitantes de Tiro e Sidom creiam.
Ambas são impossíveis. Pois, se os habitantes de Tiro e Sidom vissem nada além
de sinais externos e, ao mesmo tempo, não lhes fossem dados olhos para ver e
ouvidos para ouvir, como está claro em Deuteronômio 29:2-4, era impossível que
eles acreditassem. Mas, no entanto, feita a comparação com os judeus, isso seria
mais fácil do que o outro, e isso porque estes sofriam apenas de cegueira
natural, como em 1 Coríntios 2. Os judeus, porém, não apenas sofriam de
cegueira natural, mas também de outra cegueira infligida por Deus, que
aumentava a primeira: portanto, feita a comparação entre os dois grupos, seria
mais fácil, se uma delas devesse ocorrer, que aqueles acreditassem do que os
judeus, pois os impedimentos para os judeus acreditarem eram maiores do que
para os habitantes de Tiro e Sidom.
Objeção 3: Se Deus não conhecesse os eventos
contingentes futuros, exceto em Sua vontade predefinindo a futura ocorrência
deles; então, uma vez que a mesma razão se aplica a todos os futuros no que diz
respeito à infalibilidade da presciência, seria necessário que Deus previsse os
pecados em Sua vontade predefinindo, e assim seria o autor do pecado. Resposta:
Esta objeção é antiga e não necessita de uma solução nova; basta distinguir
entre o ato e sua malícia. Deus promove o ato, permite a malícia e a ordena;
assim, Deus prevê os pecados como tais em si mesmos, mas no decreto do bem
oposto, na medida em que o pecado é consequência do decreto, não seu efeito;
pois a vontade permissiva é eficaz, não quanto à produção, mas quanto à ilação.
Objeção 4: Aquilo que Deus conhece como futuro
a partir do decreto é absolutamente necessário em relação a esse decreto.
Portanto, não pode ser contingente, pois o contingente e o necessário diferem
inteiramente em suas essências. Resposta: Pode ser necessário e
contingente em diferentes sentidos; por exemplo, os ossos de Cristo poderiam
ser quebrados e não quebrados; poderiam ser quebrados, se considerados no
sentido dividido; não poderiam ser quebrados, se considerados no mesmo sentido
composto, isto é, em razão do decreto divino e da providência atual de Deus. De
fato, tudo o que é necessário a partir da hipótese do decreto divino e da
providência atual deve ser assim distinguido. Pois, em si, tal coisa é
contingente, isto é, consiste em tal potência, segundo a qual poderia ser
determinada a este oposto ou a outro.
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