O RELATO DA CRIAÇÃO (EXPOSIÇÃO DE GÊNESIS 1)

Todo o enredo das Sagradas Escrituras tende a nos mostrar um Deus gracioso e misericordioso com suas criaturas racionais, que sendo pecadores, mereciam a condenação, mas que por meio de seu Filho Jesus Cristo, são salvos e reconciliados com Deus. Contudo, as Escrituras apresentam Deus como Criador do Universo, anterior a Ele e sustentador de sua criação. Deste modo, Palavra de Deus começa a nos apresentar o início do palco em que desencadearia toda a redenção humana. A revelação de Deus como Criador de todas as coisas nos mostra, pelo menos, três atributos divinos: (1) poderoso, uma vez que antes de tudo somente Ele era e trouxe tudo a existência a partir do nada, pela sua própria palavra; (2) bondoso, pois certamente nada daquilo que Ele criou foi uma necessidade, mas criado livremente por Ele para louvor de sua Glória; (3) sábio, uma vez que tudo foi feito com exata coerência, inteligência e ordem, pelo que percebemos a harmonia do universo e sua complexidade tanto macroscópica como microscópica.

Ainda assim, é necessário que aprofundemos ainda mais nossa compreensão ao texto bíblico, para que possamos ver outros atributos que podemos deduzir de seu próprio ato criador. Pois quando lemos “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (1:1), devemos nos atentar que sua existência é autônoma, pois as Escrituras nos informam que Ele criou o Universo, mas sua existência não procede de nada anterior a Ele, mas é independente de causas precedentes. Logo, o conceito “existência” deve ser usado, em relação a Deus, de modo análogo, pois embora ele seja real, ele não procede de outra causa, Ele não é um efeito, mas Causa Primeira de todas as coisas criadas. O conceito de Ser se aplica mais propriamente a Deus, pois Ele de fato é, enquanto todas as criaturas participam desse Ser, subsistindo Nele. De que modo isto pode se tornar mais claro? É impossível existir sem possuir ser, por esta razão, Deus é, e existimos Nele de maneira participada, ou seja, somos seres por participação. Claramente, o apóstolo Paulo nos dá esta informação quando, ao pregar aos gregos, afirma “nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele também somos geração” (At 17:28). Em segundo lugar, o texto demonstra claramente a sua eternidade, pois Deus é anterior as mudanças existentes no mundo criado e nem sofre mudanças juntamente com a sua criação. Deus pairava sobre o abismo (v.2), separava a luz das trevas (v.4), fez a separação das águas e do firmamento (v.7), como separou as águas da porção seca (v.9), a geração de luzeiros no céu, as plantas e animais, como também a formação do próprio homem (v.14-27) e diante tudo isto, Deus é o mesmo, não sofrendo nenhuma alteração em seu Ser e sendo a causa de cada mudança na própria criação.

A criação foi progressiva, saindo do caos e mudando na medida em que Deus falava e ordenava todas as coisas na criação, moldando o mundo ao seu modo, de acordo com seu querer. Este ato criativo de Deus consiste na ordem, na separação e na nomeação. Ordenado, pois é produto da Palavra de Deus, separado, pois os opostos são distinguidos e separados e nomeados por Deus. Deus separa a luz das trevas, as águas do firmamento, como a porção das águas é separada da porção seca, as plantas dos animais, o macho da fêmea. E como diz as Escrituras, “e viu Deus que tudo era muito bom” (v.31)

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